São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Líder alemão recomenda pacto contra desemprego

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

O "acordo de intenções" assinado em janeiro na Alemanha contra o problema do século, o desemprego, pode vir por água abaixo e não atingir sua meta: criação de 2 milhões de empregos até o ano 2.000.
Mas tirou do ostracismo o movimento sindical, antes paralisado com a redução nas suas bases.
Essa é a opinião de Klaus Zwickel, presidente do IG Metall, poderoso sindicato de metalúrgicos da Alemanha. Zwickel, que deu o pontapé inicial para o pacto no seu país, esteve no Brasil pela primeira vez nos dias 16, 17, 18 e 19.
"Desejo que todas as entidades tomem iniciativas na área política contra o desemprego", disse Zwickel, presidente da Federação Mundial dos Metalúrgicos, à qual são filiadas CUT e Força Sindical.
Abaixo, trechos da entrevista de Zwickel e do secretário da presidência da IG Metall, Klaus Lang:
*
Folha - Por que o sr. Zwickel propôs o pacto contra o desemprego?
Zwickel - Na Alemanha, a taxa de desemprego ficava, na média, entre 2% a 3%. Hoje, chega a 10% -15% no leste e 8% no oeste. Os empresários passaram a endurecer nas negociações. E o governo falava em cortes no seguro desemprego. Propusemos um pacto para tentar reverter essa situação.
Folha - E acordado foi cumprido?
Zwickel - O pacto até hoje ainda não se realizou dentro dos moldes pretendidos por nós. Nós colocamos exigências bem nítidas que até agora não foram cumpridas. Uma coisa foi conseguida: um acordo de intenções, de que o desemprego seja reduzido à metade até o ano 2.000. Ainda falta transformar esse acordo de intenções em passos concretos. Isso significa em números bem claros: os empresários precisam aumentar o total de vagas em 3% e o número de postos de treinamentos para os mais jovens em 5% em um ano. O governo, de seu lado, precisa deixar de cortar as verbas para os desempregados.
Lang - Estamos também negociando o fim das horas extras. As 250 mil horas extras no setor metalúrgico feitas em 95 poderiam gerar 150 mil empregos. Mas os empresários preferem horas extras.
Folha - Então vocês abriram mão dos aumentos reais de salários (acima da inflação) em troca de nada?
Lang - Não. Só limitaremos nosso pleito às perdas inflacionárias nas negociações de 97 se o governo e os empresários cumprirem com o que foi proposto a eles.
Folha - Se as negociações não avançam, de que serviu o pacto?
Zwickel - Os sindicatos partiram para a ofensiva. Ganharam apoio da opinião pública e dos que trabalham. O acordo de intenções deu força a IG Metall para fazer pressão junto ao governo e empresários, que terão de fazer a parte deles. Os empresários só falavam de perda de competitividade internacional. Com a proposta de pacto, o debate mudou de rumo.
Folha - O que vocês acham do corte nos encargos sociais para alguns contratos, proposto pelo governo brasileiro em projeto de lei?
Zwickel - Os sindicatos não devem aceitar argumentos de que o custo do trabalho é a principal causa do desemprego. Mas é difícil falar sobre projetos de outros países. Nós mesmos fizemos na Alemanha experiências novas. Por exemplo, na Volks, em 94, quando a empresa ameaçou demitir 30 mil. Fizemos um contrato que elimina demissões. A jornada de trabalho foi reduzida de 35 horas semanais para 28,5 horas. O salário foi reduzido em 13%. Mas a Volks pagava 20% a mais que o mercado.

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