São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Coréia 'troca' Nobel da Paz pelo Mundial

MÁRIO MOREIRA
ENVIADO ESPECIAL À CORÉIA DO SUL

Um suposto desejo do presidente da Fifa, o brasileiro João Havelange, de ganhar o Prêmio Nobel da Paz é a grande esperança dos sul-coreanos de derrotar o poderio econômico japonês e conseguir a indicação para organizar a Copa do Mundo de 2002.
A Fifa, entidade que dirige o futebol mundial, escolherá a sede da primeira Copa do século 21 no próximo dia 1º de junho, em Zurique (Suíça). Coréia do Sul e Japão são os únicos candidatos.
A Coréia é o último país dividido do mundo -entre Norte e Sul-, ainda como resquício da Guerra Fria, que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, até o desmembramento da União Soviética, em 1991, opôs o mundo capitalista ao socialista.
Nos últimos anos, o governo sul-coreano (capitalista) vem buscando uma aproximação gradual com o norte-coreano (comunista) para tentar a reunificação do país.
"Se ganharmos a indicação, vamos convidar a Coréia do Norte a abrigar alguns jogos da Copa", diz Pyong-Hwoi Koo, presidente do Comitê de Apoio à Copa do Mundo de 2002 na Coréia (Kobid).
"É uma oportunidade realmente boa, porque o futebol tem condição de unir as Coréias."
Koo lembra o Mundial de Juniores de Portugal, em 91, quando as duas Coréias participaram com uma equipe unificada, para comprovar sua tese.
"Achamos que o presidente Havelange deseja ganhar o Prêmio Nobel da Paz, e a reunificação da Coréia atenderia à filosofia da Fifa de contribuir para a paz no mundo", explicita o diretor geral do Departamento de Cooperação Internacional do Kobid, Suk-Jo Lee.
Mas o comitê vai esperar a indicação para, só então, iniciar os entendimentos com os norte-coreanos visando ao co-patrocínio.
Desenvolvimento
Além do aspecto político, também o econômico integra a "exposição de motivos" sul-coreana.
O presidente do Kobid acredita que, após os Mundiais da Itália, em 90, dos EUA, em 94, e da França, em 98, a Copa não deveria ir para o Japão, um país altamente desenvolvido, como os outros três -estágio que a Coréia do Sul ainda não atingiu, apesar do crescimento econômico de 9% ao ano.
"Estamos nos tornando uma economia forte, mas organizar a Copa do Mundo pode levar o país a ser um verdadeiro líder nessa área", diz Koo.
Além dessas motivações, a Coréia do Sul conta com dois outros trunfos para obter a indicação.
O primeiro é o fato de ser o país asiático de maior tradição no futebol. Disputou a Copa do Mundo quatro vezes (54, 86, 90 e 94) -recorde do continente.
A Liga de Futebol da Coréia do Sul foi fundada em 1983, dez anos antes da J-League, a liga profissional do Japão.
No ano passado, o campeonato sul-coreano, disputado por oito clubes, teve média de 13.500 pagantes por partida. No campeonato de 96, haverá dez equipes. A previsão para 98 é de 16 times.
O Ilhwa Pegasus, atual tricampeão sul-coreano, conquistou a última Copa Asiática de Clubes, em dezembro, derrotando o Al-Nasser, da Arábia Saudita, na final.
Os sul-coreanos argumentam ainda que o interesse por futebol no seu país é muito maior do que no Japão.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup no começo de 1995 mostrou que 85,6% dos sul-coreanos eram favoráveis à realização da Copa no país.
Levantamento semelhante feito pelo jornal "Kobe Shimbum", do Japão, em dezembro, revelou que apenas 29% dos japoneses têm posição semelhante em relação ao pleito de seu próprio país.
A Olimpíada de Seul, capital da Coréia do Sul, em 88, é apontada pelo Kobid como uma prova da capacidade do país de patrocinar grandes eventos esportivos.
A Coréia promete doar todo o lucro que lhe couber no Mundial a federações nacionais de países futebolisticamente atrasados.
Na divisão dos lucros, 10% cabem à Fifa. Os outros 90% ficam para a organização. Só com a venda dos direitos de televisão, o Kobid espera lucrar US$ 80 milhões.

O jornalista MÁRIO MOREIRA viajou à Coréia do Sul a convite do Comitê de Apoio à Copa do Mundo de 2002 na Coréia

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