São Paulo, domingo, 31 de março de 1996 |
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Reutemann, o político, fala como piloto
MAURO TAGLIAFERRI
Na 31ª das 37 voltas da prova, o "Rato" abandonou -a suspensão traseira do Lotus 72-D quebrara. Segundo colocado até ali, em seu Brabham B-34, Reutemann, que iniciava sua carreira na F-1 naquele ano, herdou a ponta e venceu. É verdade que a corrida nem valeu pelo Mundial da categoria, mas o argentino, que completa 54 anos no dia 12, não esqueceu a vitória. Não esqueceu, também, os trejeitos de piloto de F-1, carreira que abandonou em 1982, com 12 vitórias e um vice-campeonato, em 81. Reutemann conserva o estilo "político" de piloto ao falar dos rivais históricos, como o brasileiro Nelson Piquet e o australiano Alan Jones. Manteve-se tão político que virou, em 91, governador da província de Santa Fé. Hoje senador pela mesma província, não descarta a possibilidade de se lançar candidato à Presidência da Argentina. * Folha - O que o sr. se lembra do primeiro GP Brasil de F-1? Carlos Reutemann - Eu já havia corrido em Interlagos no ano anterior, num troféu chamado Copa dos Mundos, da F-2 européia, em que havia muitos pilotos brasileiros e argentinos. Então, na primeira prova de F-1, eu já conhecia o circuito e corri com muita gana. Lembro-me que o Emerson ia bem, com o Lotus 72. Eu estava na segunda posição e seria muito difícil alcançá-lo, o Lotus tinha vantagem sobre o resto. Mas, no final, acho que ele teve algum problema de suspensão, o que me permitiu ganhar a corrida. Folha - O sr. viu quando Emerson quebrou? Reutemann - Não. Eu estava a uns sete, oito segundos atrás dele. Folha - Se não houvesse a quebra, Emerson teria vencido... Reutemann - Seguramente, ele levava muita vantagem e faltavam umas sete voltas para terminar. Folha - Como era a rivalidade entre Brasil e Argentina nas corridas? Reutemann - Naquela época, creio que não havia muita rivalidade, tínhamos amizade. Eu conhecia o Emerson, o Wilson, o Pace. Folha - Não havia a rivalidade que há no futebol, por exemplo? Reutemann - Não, éramos quatro sul-americanos e não havia tantos sul-americanos na Europa como agora. Éramos quatro amigos entre todos aqueles europeus. Folha - O sr. correu ao lado de dois campeões brasileiros, Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet. Como era competir com eles? Reutemann - Eu competi mais contra Piquet do que contra o Emerson, apesar de eu o ter visto campeão em 72 e 74. Folha - A disputa com Piquet foi mais acirrada... Reutemann - Sim, fiquei em segundo lugar em 81, estávamos lutando pelo campeonato. Folha - Em 81, na Williams, o sr. ficou um ponto atrás de Piquet, o campeão, no Mundial. Dizem que o sr. foi prejudicado pelo seu companheiro de equipe, Alan Jones... Reutemann - Em 81, houve alguns problemas na equipe, porque a Williams sempre chegava nos primeiros lugares e tínhamos de disputar posições na pista. Foi um ano num ambiente assim, diríamos, de muita competição. Folha - Houve uma prova no Brasil em que o sr. desobedeceu a uma ordem para deixar Jones passar... Reutemann - Em Jacarepaguá. Mas a verdade é que estava chovendo e eu não enxergava as placas que a equipe mostrava para mim. Não pude obedecer às ordens. Folha - O sr. teria dito, em 81, que Piquet fora um rapaz que limpava os seus carros... Reutemann - Nunca disse isso. Creio que ele trabalhou assim, mas eu não comentaria porque não me fixo ao passado das pessoas. Folha - O sr. passou alguns anos lutando pelo título, mas nunca o conquistou. Isso o frustra? Reutemann - Olha, uma grande tristeza por não ter ganho um título, não a tenho. Acho que ter saído com vida da F-1 da minha época, que era bastante perigosa, já foi importante. Muita gente de minha geração morreu. Folha - O sr. perdeu amigos? Reutemann - A pessoa a quem tinha como a um filho, era (Gilles) Villeneuve. Corri muito tempo com ele na Ferrari e sua morte me chocou muitíssimo, foi como ver morto um filho. Folha - Hoje o sr. vê o filho dele, Jacques, correndo na Williams que o sr. correu... Reutemann - Lembro que quando corria com Villeneuve, o garoto tinha seis anos. Estava sempre nos boxes com o pai. E mais que vê-lo pilotar, o que ele faz muito bem, eu o acho a cara do pai. Vejo-o mais como se fosse o pai do que como o bom piloto que é. Folha - A F-1 é hoje tão emocionante quanto era no seu tempo? Reutemann - Para quem corre é exatamente o mesmo. Você só tem que ter a sorte de estar numa equipe de primeira linha. Folha - E para o público? Reutemann - Talvez antes as disputas tenham sido maiores, porque as diferenças técnicas não eram tão grandes. O motor, por exemplo, só se usava de um tipo. Folha - O que era preciso fazer para se ter um bom carro na época do primeiro GP Brasil? Reutemann - Tecnicamente, 25 anos é muito tempo, as mudanças foram enormes. O Lotus 72, em que correu Fittipaldi, por exemplo, foi revolucionário. Os motores, em compensação, eram mais parecidos. Mas havia mais desenvolvimento humano, contava muito mais a opinião da pessoa. Hoje há muita inteligência, muitos computadores para fornecer dados sobre o carro. Folha - Agora, o sr. é senador pela província de Santa Fé. Pretende se candidatar à Presidência? Reutemann - Humm... (pensa um pouco) Não é tão fácil. Quando se pensa em nível presidencial, sempre fica mais complicado... Texto Anterior: Dirigente não teme a Indy Próximo Texto: Coréia 'troca' Nobel da Paz pelo Mundial Índice |
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