São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Crise expõe fragilidade do Reino Unido

IGOR GIELOW
DE LONDRES

A crise que levou ao banimento da carne britânica pela UE (União Européia) expôs a frágil posição do Reino Unido frente a seus 14 parceiros no processo de integração político-econômica do continente.
Ao se recusar a ouvir os cientistas britânicos e banir a carne por medo da contaminação pela "doença da vaca louca", a UE explicitou o isolamento do Reino Unido dentro da comunidade -que lançou anteontem sua Conferência Intergovernamental em Turim (Itália).
A conferência é a principal reunião européia desde a que formulou o Tratado de Maastricht.
O acordo definiu as metas de integração em 1991. Durante um ano, serão reanalisados todos os estatutos da União Européia e preparadas as emendas para Maastricht.
Contradição
"A contradição da política do governo britânico foi colocada às claras. Mesmo que o banimento seja derrubado, o fato é que tudo o que ocorrer na Europa daqui para a frente vai depender muito mais da Alemanha e da França do que do Reino Unido."
A afirmação é do professor Michael Hodges, um dos diretores do Departamento de Relações Internacionais da London School of Economics and Political Science e especialista em UE.
A referência aos dois maiores parceiros dos britânicos no continente europeu reflete uma preocupação com o papel que será reservado a Londres.
Afinal, foram os britânicos que resistiram aos nazistas alemães durante a Segunda Guerra Mundial. "A credibilidade está perdida hoje", disse Hodges à Folha.
Juntos, os três principais membros da UE formam um PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas de um país) de cerca de US$ 3,5 trilhões. O brasileiro está na casa dos US$ 500 milhões.
Resultados
Anteontem, um dos únicos resultados práticos da reunião que lançou a conferência foi a inclusão de dois direitos trabalhistas no regime comum de emprego que pode ser adotado no ano que vem.
São eles a licença para o pai ou mãe de criança recém-nascida ou adotada, além de garantias em caso de transferência, pela mesma empresa, entre países da UE.
O Reino Unido votou sozinho contra o primeiro item e foi acompanhado pelos portugueses no segundo item.
"A única coisa positiva da crise é obrigar ao governo a reavaliação de seus conceitos", disse Hodges.
O Reino Unido está isolado em uma das principais discussões européias, sendo contra a extensão do poder dos Conselho de Ministros da União Européia.
Na avaliação de Hodges, há o risco de uma subdivisão na UE. Um grupo, liderado pela Alemanha e pela França, está engajado em mudanças rápidas, enquanto outro, mais lento, tem a liderança dos britânicos.

LEIA MAIS
sobre a "doença da vaca louca" às págs. 20 e 23.

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