São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
Texto Anterior | Índice

Aposentado vela o filho no jardim

DA "FRANCE PRESSE"

Com um gesto cansado, Huso Vocic aponta uma área rodeada por um fita amarela, colocada por observadores das Nações Unidas, no fundo do jardim da sua casa, destruída pelos sérvios em 1992, em Hadzici, subúrbio de Sarajevo. "Acho que ali está enterrado meu filho, mas não tenho certeza."
A polícia das Nações Unidas anunciou anteontem que mais de 20 cadáveres foram descobertos em Hadzici, bairro que esteve em poder dos sérvios durante quase toda a guerra e voltou ao controle do governo em 6 de março.
Desde aquele dia, os muçulmanos que haviam conseguido fugir começaram a regressar. Na quinta-feira, a polícia da Federação muçulmano-croata e os observadores das Nações Unidas demarcaram cinco locais de fossas comuns.
Huso Vocic, 75, ferroviário aposentado, espera agora a exumação para poder sepultar seu filho.
"Junto com ele há outras sete pessoas. Mataram-nos em junho de 1992, em frente de casa. Tinham ficado para proteger as casas depois da nossa partida", diz. Sua nora também ficou, mas se salvou.
Huso Vocic fugiu em 26 de maio de 1992, depois de duas semanas de bombardeios sérvios. No último dia 6, foi um dos primeiros a voltar, encontrando casas destruídas com explosivos ou incendiadas. De sua casa, em que viveu por 17 anos, só restaram quatro paredes. Entretanto, vive nela "quase todos os dias", para velar o túmulo em que estaria seu filho.
Os policiais da ONU dizem que os bósnios têm interesse em que tudo seja feito regularmente. É necessário contar os mortos e coletar provas dos abusos dos sérvios, antes que os corpos sejam retirados.

Texto Anterior: Guerra é religiosa e econômica, diz escritor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.