São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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UE chega dividida ao encontro de Turim

SARAH HELM
DO "THE INDEPENDENT", EM TURIM

Declarando-se determinados a estabelecer sua agenda para o final do século, líderes europeus deram o pontapé inicial anteontem em Turim no tortuoso processo de dar uma nova forma à já capenga União Européia (UE).
Mas as esperanças de que a conferência de Turim fizesse soar em uníssono a Europa unida esbarraram na crise da carne britânica, que ameaça produzir uma nova divisão profunda entre o Reino Unido e seus parceiros europeus.
O premiê britânico, John Major, que esperava apresentar argumentos contra uma maior integração do continente de uma posição de força se viu na defensiva, ao implorar dos demais países-membros solidariedade e auxílio financeiro.
Major rejeitou olimpicamente sugestões de que estivesse sob pressão para fazer concessões em relação às posições econômicas do Reino Unido, em troca de compensação européia aos criadores de gado britânicos.
As duas questões, disse ele, são "totalmente separadas". Major também não se mostrou disposto a enfraquecer o tom de suas exigências à conferência.
O premiê afirmou que defenderia a anulação da recente decisão da Corte Européia sobre o número máximo de horas de trabalho, pedindo que um artigo chave do tratado fosse reescrito.
Major acusou seus parceiros europeus de agir de má-fé ao abrir uma brecha no Tratado de Maastricht, usada para instaurar uma medida estabelecendo uma semana de trabalho com um máximo de 48 horas.
Mas, à medida que os líderes declaravam "solidariedade" com o Reino Unido, havia fortes sugestões de que o episódio deveria ensinar o país a entrar de corpo e alma na empreitada européia.
"O Reino Unido precisa começar a pensar na Europa não como um lugar lá fora, mas como um local de que faz parte", afirmou o premiê da Irlanda, John Bruton.
O chanceler alemão, Helmut Kohl, procurou mudar as ambições da reunião declarando que o verdadeiro objetivo da integração européia era "fornecer paz e liberdade no século 21".
Todos os líderes reafirmaram sua determinação de reconstruir as instituições européias e de estar prontos a aceitar novos membros da Europa Oriental.
"Ampliação futura, que representa uma missão histórica e uma grande oportunidade para a Europa, é um desafio para a união em todas as suas dimensões", afirma o comunicado final.
Pela primeira vez numa cúpula européia, o documento de Turim propôs que os Estados-membros deveriam considerar um sistema de "geometria flexível" que permitiria a alguns avançar rumo à integração mais rapidamente.

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