São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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FISIOLOGIA

Agora já é internacional. Com a divulgação por "The Economist", uma das revistas econômicas mais respeitadas do mundo, de que o governo Fernando Henrique Cardoso está trocando verbas por votos no Congresso, o fisiologismo brasileiro ganha dimensões internacionais.
Ninguém é ingênuo o bastante a ponto de acreditar que essa prática é uma exclusividade nacional. Não existe país, por mais democrático e avançado que seja, em que não se pratique o toma-lá-dá-cá. Na verdade, é tudo uma questão de grau.
Ainda assim causa estranheza que o presidente que decretara o fim do fisiologismo no Brasil não só tenha a ele aderido às escâncaras como também não esteja tomando rapidamente algumas medidas práticas que poderiam reduzi-lo bastante.
Diminuir os cargos de confiança de segundo e terceiro escalões, substituindo-os por técnicos de carreira, é uma excelente forma de acabar com uma das mais populares moedas do terrível reino da fisiologia: o "dê-me aquele cargo, para o qual indicarei um meu apaniguado".
Medidas no sentido de reforçar a fidelidade partidária também seriam extremamente bem-vindas. Será muito menos difícil negociar com um partido do que com cada parlamentar individualmente. De resto, um partido, mais do que certos congressistas, tem uma imagem a zelar.
Outra frente de combate é a regulamentação do lobby. Ele existe em qualquer parte do mundo com os efeitos daninhos que todos conhecem. Se não se pode acabar com ele, pode-se, ao menos, fazer com que atue às claras e não sob as sombras da impunidade como ocorre hoje.
FHC, tão cioso da imagem internacional de seu governo, necessita urgentemente -já que parece impossível acabar com a fisiologia- tomar medidas no sentido de torná-la menos intolerável.

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