São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Em defesa da maioria

LUIZA ERUNDINA DE SOUSA

As eleições municipais se aproximam e a população paulistana precisa começar a refletir, desde já, sobre o futuro de nossa cidade.
Nesse aspecto estou convencida de que teremos, este ano, uma disputa que mostrará aos eleitores as diferenças entre um governo voltado para as questões sociais, como foi o nosso, de 1989 a 1992, e um governo preocupado apenas com a minoria e com os interesses privados, como acontece hoje.
Podemos dizer, sem falsa modéstia, que a prática administrativa do PT no governo foi um marco divisor em relação ao governo atual, insensível aos problemas vividos pela cidade nas áreas sociais.
É o que acontece, por exemplo, com os investimentos que ora se fazem em grandes e caríssimas obras viárias, executadas à custa dos serviços de saúde, educação, bem-estar social, transporte coletivo, abastecimento, saneamento básico e infra-estrutura urbana. Obras que consomem grande parte não do orçamento aplicado agora, mas dos orçamentos de vários governos futuros.
É o modelo tradicional que vem sendo questionado mundialmente, a partir da preocupação com a preservação do meio ambiente e com a melhoria da qualidade de vida da população, pois estimula o uso do automóvel em detrimento do transporte coletivo, que não tem acesso aos túneis e às obras viárias desse porte.
E foi exatamente esse o ponto que marcou a nossa política de inversão de prioridades e de governar com a participação popular. Não deixamos de investir em algumas obras viárias que estavam iniciadas e cuja conclusão era necessária, como o Vale do Anhangabaú, a recuperação do patrimônio da cidade, restauração de imóveis históricos e a reurbanização do centro antigo.
Fizemos tudo isso e garantimos, nos quatro anos, que cerca de 50% do orçamento fosse destinado aos programas sociais.
Construímos seis hospitais, saltando de 1,8 leito hospitalar por mil habitantes, quando assumimos, para 2,4 leitos por igual número de habitantes, além de reduzir o índice anual de mortalidade infantil em 7% (curva que voltou a crescer na atual gestão).
Expandimos a rede municipal de ensino, com a construção de 70 novas escolas. No transporte introduzimos a municipalização, que aumentou a frota em 2.300 ônibus e fez cair de 13 para 7 o número de passageiros transportados por metro quadrado.
Na área de bem-estar social foram 48 creches a mais e, na de habitação popular, o número de unidades construídas chegou a 36 mil moradias, 10 mil das quais feitas em mutirão.
E são casas de tamanho maior, de melhor qualidade e de custos bem inferiores aos dos 1.600 apartamentos anunciados com estardalhaço até agora pelo chamado projeto Cingapura (note-se que, na campanha, foram prometidas 200 mil casas populares).
Além disso, a população de São Paulo é testemunha de inúmeras outras realizações nossas em áreas onde pouco se fez ou que foram simplesmente relegadas ao esquecimento nos últimos três anos. Algumas delas:
Foram 33 sacolões, 41 comboios de alimentos e 36 campanhas de venda de produtos alimentícios a preços mais baixos; 130 obras de urbanização de favelas; 14 córregos canalizados, num total de 33 km; 828 km de ruas asfaltadas; 924 km de recapeamento de ruas.
E mais: 27 mil luminárias em 950 km de ruas escuras da periferia; 7 parques municipais; 31 unidades especializadas de saúde e 33 prontos-socorros, ambulatórios ou postos de saúde; 17 linhas de ônibus especiais (para a classe média) e 70 ônibus a gás (que não poluem); 18.500 adultos alfabetizados e 809 microcomputadores em 50 escolas da periferia; 10 ônibus-biblioteca, 8 bibliotecas e 530 mil livros para seus acervos; 32 centros de convivência; 69 campos de futebol de várzea; 86 ruas de lazer e coleta seletiva de lixo.
Números que precisam ser mostrados, até como forma de resgatar uma realidade que hoje se tenta esconder com gastos altíssimos em publicidade.
De 1993 até hoje esses gastos já somam US$ 76,2 milhões (o que daria para construir quase 10 mil casas populares em mutirão), podendo chegar aos US$ 102,9 milhões até o final deste ano.
Um quadro que demonstra a preocupação do atual governo no verniz que põe em suas obras, embora seu conteúdo pouco signifique para a solução dos graves problemas que afligem a grande maioria da população paulistana.
E é para reverter essa realidade que iremos disputar as eleições de 3 de outubro, buscando reconquistar a Prefeitura de São Paulo para os trabalhadores e para os excluídos de nossa cidade.

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