São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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tempos modernos

Já não estamos mais sob o peso da hierarquia ostensiva

MARIO VITOR SANTOS

O "mundo do trabalho" está mudado. Chefes não são mais chamados de senhor, não se aceita mais essa demagógica submissão. Na última década, assistiu-se a uma grande informalização das hierarquias, especialmente entre os que trabalham nos escritórios, a turma de terno e gravata, essa vestimenta que também já começa a sair de moda, como precário símbolo da separação de funções manuais e "intelectuais" na empresa.
Sinais ostensivos de poder no trabalho foram sendo substituídos por signos mais sutis e elaborados. O primitivismo militar da farda-terno cedeu espaço à sutileza das etiquetas no verso da gravata, na face interna dos paletós.
Já não estamos mais sob o peso da hierarquia ostensiva, do respeito é bom e eu gosto. Sucedem-se as teorias que incentivam ao envolvimento e à participação da mão-de-obra.
É a égide da gestão participativa substituindo o psicodrama que já foi moda nas empresas. Sobreveio a derrubada das salas diferentes reservadas a chefes e a subordinados. Até os bancos, com seus códigos de etiqueta em escritórios, aboliram as paredes, substituindo-as por "salões" e "mesões" comunitários.
Nas linhas de produção, vive-se a onda do "empowerment", que alardeia a libertação do trabalhador do seu antigo feitor, mestre na tarefa de espreitar por sobre os ombros do homem-máquina. Hoje, delega-se poder para depois cobrar quantidade e qualidade nos resultados.
Passou o disciplinado puritanismo fabril do pós-guerra, cessou a esfusiante (e também puritana) revolta anticonsumista das décadas de 60 e 70, passou a esbórnia yuppie dos 80: a que chegamos nessa década?
A era da "informalidade" no trabalho parece ser um paliativo cruel num mundo em que a eficiência é medida pelo número de postos de trabalho cortados e em que aumenta a distância entre os executivos que sobrevivem e seus inferiores a temer a inevitável extinção de seu posto de trabalho. Enquanto isso, submetem-se esperançosos, resignados e basbaques à "informalização".

e-mail: msantos@folha.com.br

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