São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Diretor de prisão chora e faz apelo à PM

WILLIAM FRANÇA

WILLIAM FRANÇA; LAURO VEIGA FILHO
ENVIADO ESPECIAL A APARECIDA DE GOIÂNIA (GO)

Sob a mira das armas dos presos amotinados desde quinta em GO, ele pediu que a polícia aceite as exigências

LAURO VEIGA FILHO
O diretor do Cepaigo (Centro Penitenciário Agroindustrial de Goiás), Nicola Limongi Filho, 58, mantido como refém desde a última quinta-feira, fez ontem um apelo dramático por um final pacífico para a rebelião.
"Não cometam o maior crime da história de Goiás. Isso aqui vai ser um segundo Carandiru", disse, referindo-se ao massacre de 111 presos na Casa de Detenção de São Paulo, em outubro de 92.
Ontem ainda havia 19 reféns sob a mira de armas, em celas com botijões de gás e solventes químicos -entre eles o presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, o secretário de Segurança Pública, o diretor do Fórum de Goiás e sete juízes.
O impasse permanecia até as 19h. Às 16h12, Nicola Limongi Filho foi levado ao muro da penitenciária por um grupo de amotinados, liderados pelo sequestrador Leonardo Pareja, 22. Ele pediu, em nome da vida dos reféns, que fossem reiniciadas as negociações.
Limongi, que estava numa escada, disse que havia presos armados esperando para matá-lo, embaixo, caso a comissão não os atendesse.
'Me ajude, gente!'
Limongi chorou várias vezes. Teve dificuldades no início, pois a PM ligou sirenes para impedir que ele falasse com a imprensa. Foi preciso que Pareja desse um tiro ao lado dele para que a polícia silenciasse.
Limongi pedia que integrantes da comissão entrassem logo no presídio para que ele pudesse descer do muro, o que demorou meia hora. Diante da imobilidade dos policiais, disse que, depois de três dias sem comer, não merecia aquele tratamento.
"Me ajude, gente! Estou com as horas contadas." Limongi disse ser compadre do senador Iris Rezende (PMDB-GO) e amigo do governador Maguito Vilela (PMDB).
Os presos pediam mais um carro -o sétimo- para a fuga, além de armas automáticas. A comissão de negociação, que havia entregue 2 dos 6 carros pedidos, 4 das 12 armas e cinco coletes à prova de bala, decidiu não atender mais.
"O Pareja disse que tudo só acaba na terça", disse Eli Forte, presidente da OAB-GO (Ordem dos Advogados do Brasil), da comissão. "Isso tudo (o apelo) foi uma farsa do Pareja para chamar a atenção."

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