São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Teste reprova 24 vinhos franceses

DANIELA FERNANDES
DE PARIS, ESPECIAL PARA A FOLHA

Para os franceses, Baco, deus do vinho, nasceu na França. Solo e clima propícios, além do "savoir faire", contribuíram para criar a tradição do consumo do vinho francês no mundo todo.
Essa reputação pode estar, no entanto, ameaçada por uma produção excessiva que resulta em uvas de qualidade inferior e pela utilização indiscriminada de técnicas artificiais que alteram as características originais dos vinhos.
Essa é a conclusão de um teste com 48 vinhos realizado pela Union Fedérale des Consommateurs (UFC - União Federal dos Consumidores) da França, publicada em sua revista "O Que Escolher".
A UFC (equivalente francês do Idec -Instituto Brasileiro de Direito do Consumidor) é uma associação privada sem fins lucrativos.
Ela analisou a composição de 48 vinhos classificados como "Apellation d'Origine Controlée" (AOC) e concluiu que somente 14 correspondiam às exigências previstas nesse título.
Essa denominação atesta que o vinho foi fabricado respeitando critérios estritos (área de produção delimitada, tipos de solo e de uva, teor alcoólico mínimo, volume produzido) definidos pelo Institut National des Apellations d'Origine (Inao).
O teste selecionou vinhos de quatro grandes regiões produtoras (Alsace, Bourgogne, Chablis e Bordeaux). Eles são encontrados facilmente em lojas do ramo e supermercados da França, onde seu preço varia entre R$ 3 e R$ 12.
O título AOC foi criado nos anos 30 para preservar a identidade dos melhores vinhos. As características da região produtora e os métodos que conferem a cada vinho uma identidade foram definidos por decreto.
Somente os vinicultores que respeitavam essas condições podiam ter em suas embalagens a inscrição AOC. O Consumidor também estava protegido, pois sabia o que estava comprando, afirmam os técnicos da UFC.
Segundo a associação, a maior parte dos vinhos AOC testados, 31, foram submetidos a um processo conhecido como "chaptalistion" (catalisação), que consiste em misturar açúcar ao vinho para aumentar seu teor alcoólico.
Permitido por lei, esse método deve ser utilizado somente quando a falta de sol impediu o amadurecimento da uva. O vinicultor deve obter uma autorização do Inao para "catalisar" a sua produção.
Essa técnica, diz a UFC, faz com que o vinho perca seu aroma, sua acidez ou cor, não correspondendo mais às características de um vinho AOC. "Pode ser uma maneira de mascarar uma safra medíocre", afirma a associação.
O baixo teor alcoólico ocorre quando a safra é grande. "Produção elevada e qualidade não funcionam juntos", diz a UFC.
O Inao afirma que as técnicas de catalisação do vinho são tradicionais em algumas regiões da França (Bourgogne, Alsace) e que seu objetivo é reforçar as características do produto, enriquecendo o seu sabor.

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