São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Cid Moreira é o símbolo da vênus platinada

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hoje à noite quando o "Jornal Nacional" entrar no ar, sentiremos falta de Cid Moreira e Sérgio Chapelin. Na última sexta-feira, os dois apresentadores se despediram impassíveis. Terminaram de apresentar sua última edição anunciando as mudanças no telejornalismo da Globo sem nenhuma emoção.
Coube a Chapelin anunciar a própria decapitação. "'O Jornal Nacional' muda de formato." Se propõe a ser mais ágil, analítico e opinativo. Os novos apresentadores serão Lillian Wite Fibe e William Bonner. Seguiu-se o "Boa Noite" mais seco da história do "Jornal Nacional".
A força de Cid junto ao público é tão grande que a Globo acabou recuando de sua opção inicial pela substituição sumária. A emissora adotou a tática do conta gotas. O locutor oficial, aquele que encarna a imagem da vênus platinada junto ao público, vai participar de seu próprio desaparecimento do vídeo em etapas. Substituído no dia a dia, estará presente periodicamente, lendo editoriais. A apreensão diante da perda de uma figura tão habitual é inevitável. Há quem diga que o telejornal deveria mudar também de nome. Cid Moreira apresenta o "Jornal Nacional" desde a primeira edição no dia 1º de setembro de 1969. Ajudou o sucesso da emissora e viveu os tempos áureos do maior campeão de audiência. Sua imagem talvez represente o que pode haver de mais televisivo. É quase que um signo vazio. É possível que daí venha muito de sua força. Seus cabelos prateados, brilham combinando com o azul infinito do cenário. De tão estável em seu posto de apresentador do primeiro telejornal nacional, sua figura perdeu a materialidade carnal e adquiriu a materialidade eletrônica dos raios catódicos que recompõem a imagem no final do processo físico da telecomunicação. Com o tempo, contagiou Sérgio Chapelin. Se tornaram parecidos. Sua presença sinalizava que estava no ar uma comunidade imaginária, que perde agora sua referência mais familiar.

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