São Paulo, terça-feira, 2 de abril de 1996
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A vocação do BB

LUÍS NASSIF

Qualquer proposta de recuperação do Banco do Brasil passa por sua profissionalização e pela liberdade de atuação como instituição de mercado.
Nos últimos meses, o banco passou a recorrer a uma estratégia pragmática e inteligente. Em vez da montagem de estruturas próprias para lançamentos de novos produtos, passou a apelar para parcerias operacionais. De sua parte, entra com seu principal ativo -a maior rede de agências do país- e os parceiros com seu know-how e seus produtos.
Paralelamente, há que se redefinir seu papel institucional, de maneira a valorizar, dentro no novo ambiente, duas vocações históricas do BB: o desbravamento do mercado externo e do mercado do interior.
Dentro dessa lógica, o economista Cezar Manoel de Medeiros -ex-superintendente do Banco de Investimento do BB- traz contribuições ao debate. Além da nova seguradora e dos novos planos de previdência -já anunciados-, Medeiros sugere a criação de quatro novas subsidiárias.
1) Uma securitizadora, incumbida de estimular fusões, incorporações, joint ventures e recuperação de empresas -especialmente as que se encontram inadimplentes junto ao BB.
2) Uma "trading" para viabilizar a montagem de engenharias financeiras sofisticadas, conquistar negócios e parcerias com exportadores e importadores.
3) A criação do "Banco da Solidariedade", absorvendo o Fundec (Fundo de Desenvolvimento Comunitário) e o Mipem (Programa de Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas), especializado no atendimento de empresas rurais e urbanas de pequeno porte. Teria a parceria do Sebrae, de outras instituições não-governamentais e poderia contar com recursos de um imposto sobre grandes empresas.
Além do fornecimento de crédito, esse banco ofereceria assistência contábil, financeira, mercadológica e apoiaria investimentos em infra-estrutura.
4) Em parceria com universidades e escritórios nacionais e internacionais de planejamento, seria criada a BB-PPE-BB (Parcerias em Planejamento e Estratégias Empresariais), permitindo ao BB participar da elaboração e implementação de planos estratégicos das grandes empresas. Assim, o BB ganharia condições de se transformar em um agente de desenvolvimento semelhante ao IRI (Instituto de Reconstrução Industrial), da Itália.
Senões
O trabalho de Medeiros traz elementos para uma discussão que precisa ser nacional, sobre o novo papel do BB. Mas é instrutivo por permitir demonstrar outras maneiras -mais pragmáticas e modernas- de se alcançar os mesmos objetivos.
O trabalho parte ainda da concepção fechada de que uma organização precisa ter o controle sobre tudo o que faz. Isso ajudou a criar mastodontes lerdos, tanto no Brasil quanto no exterior.
As modernas técnicas gerenciais recomendam às empresas se concentrarem naquilo que sabem fazer. E complementar seus produtos com parcerias específicas, num processo mais ágil e rentável -o que o BB está fazendo.
Pretender transformar o BB em uma IRI seria redundante com o papel já exercido com razoável competência pelo BNDES. Prepará-lo para atuar como consultor de pequenas e médias empresas seria invadir área servida pelo Sebrae. Prepará-lo para atuar como consultor de grandes conglomerados conflita com o BNDES e com várias empresas que já atuam na área.
O diferencial do BB, sua vocação básica, é bancária. Seu objetivo deve ser se transformar no melhor banco do país. Se já tem escassez de mão-de-obra para a atual reestruturação, como pensar em dispersá-la por novos caminhos e empreendimentos?
Novo modelo
Com algumas modificações, todos os objetivos propostos por Medeiros poderiam ser atingidos com mais eficiência dentro do seguinte modelo.
1) A idéia da securitizadora é excelente. Ajudaria a recuperar empresas e créditos. Mas o BB não precisa montar uma estrutura própria para cuidar disso. O BNDES já dispõe desse know-how. Basta apenas montar acordos operacionais. O BNDES entra com estudos; o BB com os financiamentos.
2) Não é necessário montar uma "trading" para viabilizar negócios com exportadores. Já existem muitas "tradings". O que falta para o comércio exterior são dois instrumentos fundamentais e característicos da atividade bancária: o financiamento de exportações e importações e o seguro de crédito. É aí que o BB tem que se concentrar.
3) O Banco da Solidariedade é uma idéia preciosa, mas não precisa ser fundeada em impostos ou quetais. Com sua larga experiência internacional, o Banco do Brasil poderá montar operações sofisticadas e conseguir os recursos no mercado internacional. Teria uma função social relevante e lideraria uma operação bastante lucrativa.
4) O BNDES é a instituição brasileira mais capacitada a analisar setores e empresas. Em vez de montar uma estrutura concorrente, basta ao BB trabalhar em conjunto com o BNDES, transformando-se em seu agente financeiro.
Café
Na sexta passada, durante o pregão na Bolsa de Café de Nova York, um funcionário do FIBGE divulgou, em nome do órgão, que a safra deste ano poderia ser 16% maior a previsão de 25,5 milhões. As cotações caíram de US$ 1,24 por libra-peso para US$ 1,15.
Fontes do setor garantem que os números estão furados. Seja como for, é importante que a direção do órgão discipline a divulgação das informações -especialmente aquelas que mexem diretamente com mercados.

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