São Paulo, terça-feira, 2 de abril de 1996
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Ricos vivem impasse sobre desemprego

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LILLE (FRANÇA)

O "G-7 Emprego", a reunião especial do clube dos sete países mais ricos do mundo, terminará hoje sem encontrar uma resposta para a pergunta formulada pelo presidente francês, Jacques Chirac, no discurso inaugural:
"Estamos condenados a escolher entre o desemprego e a precariedade (do trabalho)?".
É uma alusão aos defeitos básicos dos dois principais modelos de mercado de trabalho, o europeu e o anglo-saxão (EUA, Canadá e Reino Unido), conforme expostos por Chirac:
"Aqui, o trabalho é protegido, mas a taxa de desemprego é elevada. Lá, o desemprego é mais débil, mas se desenvolve a precariedade das condições de trabalho".
As personalidades reunidas em Lille (norte da França) admitem os defeitos, mas preferem agarrar-se, cada uma, a seu modelo.
"Os Estados Unidos tiveram os maiores êxitos nos três últimos anos, mas estamos longe de ter resolvido todos os problemas", diz Ron Brown, secretário norte-americano do Trabalho.
"Precisamos de maior flexibilidade no mercado de trabalho, mas não podemos ter na Alemanha um mercado no estilo norte-americano", responde Günter Rexrodt, ministro alemão da Economia.
Consequência do impasse: "O problema do emprego vai preocupar as sociedades do G-7 por vários anos, talvez pelos próximos dez anos", diz Yves-Thibault de Silguy, comissário da União Européia para Assuntos Econômicos.
Rexrodt, embora rejeite o estilo norte-americano, admite que a Alemanha "precisa flexibilizar para baixo os salários".
Também Chirac acenou, em seu discurso, com a necessidade de reduzir o custo do trabalho, pelo menos do trabalho não-qualificado.
É, aliás, o que a França já está fazendo desde 1993: reduziu em 13% o custo do trabalho pouco qualificado, o que levou, em 1994, à criação de 200 mil novos empregos.
Essas aberturas européias à flexibilização permitem a Jean-Claude Paye, secretário-geral da OCDE, prever: "A Europa caminhará, provavelmente, para uma redução da proteção social, embora com maior eficácia do gasto restante".
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico reúne, atualmente, os 26 países mais industrializados do mundo.
Responde Michel Hansenne, diretor-geral da OIT (Organização Internacional do Trabalho, da ONU): "É perigoso reduzir demais os recursos para o bem-estar social. Levaria a uma carga intolerável de insegurança aos trabalhadores, agravaria desigualdades e fomentaria ressentimento social".
Tudo somado, fica-se longe da "terceira via" (entre a européia e a anglo-saxã), defendida por Chirac.
Em meio a uma série de desencontros até sobre as causas principais do desemprego, a única proposta de fato alternativa é da OIT.
"O crescimento inadequado durante as duas décadas passadas está no coração do problema de emprego nos países industrializados", diz texto preparado especialmente para o "G-7 Emprego".
A economia dos países ricos teve um desempenho anêmico a partir dos anos 70. Só nos sete países representados em Lille (EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Canadá), há hoje 23,74 milhões de desempregados, o que equivale à quase totalidade da população do Canadá (29,3 milhões).
O desemprego nos 15 países da União Européia duplica o dos EUA (11% contra 5,5%). Em contrapartida, a renda familiar média nos Estados Unidos caiu 11% entre 1973 e 1993, conforme estudo apresentado por Lynn Karoly, economista da Rand Corporation, na "Revista de Economia da Universidade de Oxford".

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