São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
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FHC e Motta contrariam tucanos com reeleição já

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Contrariando a opinião de outros caciques tucanos e dos aliados do PFL, Sérgio Motta insiste na reeleição já. O ministro teria uma conversa ontem com o prefeito Paulo Maluf para tentar convencê-lo a entrar na articulação.
Toda a cúpula do PFL, o governador paulista Mário Covas e o ministro José Serra dizem ser melhor votar a emenda da reeleição apenas em 97. A iniciativa de antecipar a tramitação é de Motta e de FHC.
Amigos de Maluf antecipavam a reação do prefeito à proposta do ministro. "O PPB vai retribuir o cinismo com que vem sendo tratado. Dirá que apóia, mas, na verdade, não crê na sinceridade do governo", diz o deputado federal Delfim Netto (PPB-SP).
Para ter êxito em sua iniciativa, o ministro das Comunicações precisa não só dos votos de Maluf no Congresso, mas, também, da imagem dele e de outros prefeitos.
Estratégia
Faz parte da estratégia de Sérgio Motta promover passeatas e "manifestações populares" pela reeleição. Sempre coordenadas pelos prefeitos. Pesquisas encomendadas pelo Planalto indicam que a população aprovaria a reeleição.
Os prefeitos dariam "cara" ao movimento, para evitar que FHC assumisse sozinho o desgaste de negociar a reeleição com os parlamentares. E, em caso de derrota, o presidente poderia dar os "créditos" aos aliados de empreitada.
Na semana passada, quando deflagrou as ações pela reeleição já, o governo tentou empurrar a paternidade da idéia para os prefeitos. Não colou. Maluf ligou para outros prefeitos, como César Maia, e começou a bombardear a idéia.
O prefeito avalia que o Planalto usaria os votos do PPB para aprovar a emenda este ano na Câmara. Mas, na sua opinião, ela não passaria no Senado -onde a resistência à idéia é maior- em tempo de valer também para os prefeitos.
Motta reagiu, dizendo a Maluf que, se o problema é esse, iniciaria a tramitação da emenda pelo Senado. Entretanto, não foi articulada nenhuma ação entre os senadores para avaliar as chances da emenda.
Aliados importantes, como Íris Rezende (PMDB-GO) não foram consultados. Nem o vice Marco Maciel (PFL) foi ouvido.
Para piorar, o presidente do PPB, senador Esperidião Amin, é contra a idéia: "Estão querendo ressuscitar algo que já morreu. Perderam a chance de votar a reeleição".
Ele lembra que o governo priorizar o apoio do partido na Câmara até faz sentido, pois o bloco PPB-PL tem 99 deputados (cerca de 20% dos votos). Mas a influência do PPB no Senado é bem menor: são apenas 5 votos (6%).
"O PSDB sonhou com a reeleição, mas não está fazendo nada de concreto. O estilo trator não leva a lugar nenhum", diz o deputado Paulo Bornhausen (PFL-SC).
A reclamação dos aliados do PFL, PPB e PMDB é que, antes de iniciar qualquer movimento, FHC precisa ter uma "conversa política" com eles. Em outras palavras: qual o espaço que os três partidos e o PSDB ocupariam no governo.
Mais cauteloso do que Motta, o líder tucano na Câmara, José Aníbal, explica o ritmo que pretende dar à tramitação da reeleição: "É preciso primeiro ter vitórias expressivas nas reformas". Ou seja, a reeleição não seria votada a tempo de servir aos prefeitos.

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