São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
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Polícia ameaça invadir presídio em GO

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A APARECIDA DE GOIÂNIA (GO)

A polícia tem ordens para invadir o Cepaigo (Centro Penitenciário Agroindustrial de Goiás) caso os 43 presos amotinados matem qualquer um dos 18 reféns que mantêm há mais de cinco dias.
Outra decisão tomada ontem pelo núcleo de negociação: não serão entregues armas pesadas para os presos utilizarem durante a fuga. No máximo, revólveres calibre 38 -os amotinados pedem pistolas 9 mm e metralhadoras.
Também é exigência do núcleo de negociação que os reféns que acompanhem os presos na fuga sejam deixados dentro dos limites do Estado de Goiás.
Isso significa que a fuga teria de ser momentaneamente interrompida para soltar os reféns, depois de no máximo três horas de viagem a partir do Cepaigo.
A comissão também está exigindo que os amotinados levem telefones celulares consigo. Cumprida a exigência, a comissão acompanharia as condições e a integridade física de cada um dos reféns durante a fuga.
A garantia de que não haverá perseguições vale apenas para o período em que os rebelados estiverem com os reféns. Até esse momento, nenhuma barreira será interposta no caminho.
Ministério da Justiça
A Folha apurou que foi o Ministério da Justiça, em Brasília, que traçou as linhas gerais das negociações com os presos.
As conversas com os líderes da rebelião estão sendo feitas por intermédio de um delegado e dois agentes da PF (Polícia Federal).
Esse núcleo de negociação é que traça as estratégias de ação. Depois, apresenta-as a uma comissão formada por representantes do governo, do Judiciário e da sociedade civil, que discute e avalia a possibilidade de atender às exigências.
A comissão trabalha sem pressa. Se os presos dizem ter estoque de comida suficiente para garantir a rebelião por dois ou três meses, a comissão afirma ter disponibilidade, tempo e tranquilidade para negociar -o que prevalece é a condição de manter a integridade física dos reféns.
Pressão
Os integrantes da comissão trabalham com três tipos de pressão: a humana, das famílias dos reféns; a técnica, das exigências feitas pelos policiais para negociar com os amotinados; e a política, já que estão como reféns autoridades do Judiciário e da cúpula da Secretaria de Segurança Pública.
Os presos mantêm como reféns o presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, o secretário de Segurança Pública, o diretor do presídio, o diretor do Fórum de Goiás, seis juízes e dois oficiais de comando da Polícia Militar.
O núcleo de negociação tem receio de que o assaltante Leonardo Pareja, 22, nomeado líder dos amotinados, esteja sendo abastecido com informações privilegiadas dos planos da polícia.
Ele receberia essas informações por uma rede particular de informantes -Pareja tem celulares no presídio. Os negociadores tentam também evitar a divulgação de fatos para a imprensa, já que os presos têm aparelhos de rádio e TV.
Nova lista
Ontem, às 17h, Pareja entregou uma nova lista de reivindicações: nove carros, 25 revólveres calibre 38 com uma caixa de bala cada, R$ 100 mil e a fuga com nove reféns (leia lista de reféns para a fuga no texto abaixo).
No final da tarde a PM informou extra-oficialmente que um dos seis fugitivos do Cepaigo teria matado a tiros um chacareiro da região e ferido a bala um rapaz de 17 anos, que andava de bicicleta. Não houve confirmação oficial até as 19h.
Vários presos passaram o dia em cima da caixa-d'água do presídio. Um deles chegou a urinar e ficar alguns minutos nu, tomando sol, ao lado de uma bandeira nacional.

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