São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
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'Outubro' transforma a luta armada em demência coletiva

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

No dia 10 de outubro de 1970, o ministro do Trabalho e Imigração do Canadá, Pierre Laporte, é sequestrado por militantes da Frente de Libertação do Quebéc, grupo armado de esquerda fundado em 1963. Uma semana depois, o ministro é encontrado morto no porta-malas de um carro.
"Outubro Violento", do diretor Pierre Falardeau, reconstitui o episódio dia-a-dia, a partir da ótica dos sequestradores, num esforço de trazer à tona o outro lado da história.
A temática é familiar aos latino-americanos e quem já assistiu aos filmes de Costa Gravas tem uma idéia aproximada do registro em que se move "Outubro".
O segredo da fórmula está na mistura verossímil e didática de trama política, andamento de suspense policial e drama existencial.
Este último assume seu centro nervoso numa espécie de subordinação progressiva da política ao inferno íntimo de cada envolvido.
Acompanhamos, com mal-estar, o processo de enlouquecimento de sequestradores ilhados numa casa junto com sua vítima.
Numa visão que é parcial e amplamente simpática ao "drama" dos sequestradores, "Outubro" psicologiza a política e humaniza a luta armada, transformando-a em pouco mais do que demência coletiva movida por boas intenções.
Essa ambiguidade que envolve toda ação extrema, o filme já a coloca desde o início quando escolhe como epígrafe a seguinte frase de Albert Camus: "necessário e injustificável". Falardeau não precisaria fazer mais que isso para sinalizar que vê seus sequestradores como mártires de uma causa perdida. Já vimos isso antes.

Vídeo: Outubro Vermelho
Elenco: Hugo Dubé, Luc Picard
Distribuição World Movies (tel. 011/536-0677)

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