São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
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Tem remédio

GILBERTO DIMENSTEIN

A empresa de telecomunicação AT&T lançou projeto original para tentar reduzir a ansiedade de seus funcionários com as demissões: um banco de empregos.
Idéia simples. O banco caça ofertas de vagas no mercado que se encaixem com o perfil dos trabalhadores da empresa e as publica num jornal interno. "Já conseguimos empregar 4.000 de nossos ex-funcionários", informa Robert Allen, presidente da AT&T, que, no início do ano, anunciou a demissão de 40 mil pessoas e se tornou um dos sacos de pancada favoritos do país. A AT&T defende uma idéia ousada, que ganha adeptos no governo e no Congresso. As empresas bancariam os benefícios sociais (seguro médico e de vida, aposentadoria) do demitido até ele conseguir novo emprego -ou, pelo menos, fixariam um prazo mínimo.
Allen já se adiantou e se compromete a manter por um ano benefícios sociais de quem foi para a rua. Bondade? Não, marketing.
As demissões em massa abalam o respeito da população pelas empresas e aumentam o risco de o consumidor preferir outras marcas.
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A palavra da moda aqui é "responsabilidade social", empunhada à direita e à esquerda. Todos aceitam a economia de mercado, sabem que a tecnologia produz impactos negativos.
Mas também acham que a empresa deve ter responsabilidade, criando mecanismos que reduzam o trauma das famílias sem emprego.
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O americano detesta pagar imposto, claro. Mas não protesta quando sonegador vai para a cadeia -e, aqui, grandes empresários já estiveram, estão ou estarão na cadeia.
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Duvido (repito, duvido) que os crimes do Econômico e do Nacional não acabassem em xadrez para muita gente se tivessem acontecido nos EUA.
Apenas os empréstimos do Banco do Brasil já mereceriam uma CPI, que desvendaria a malha clandestina de empresários, políticos e burocratas.
Tudo à custa do pobre contribuinte brasileiro, assalariado que luta para manter os filhos em escola privada, já que a pública está um lixo, pagar aposentadoria privada e convênio médico. Fora os seguros do carro, da casa, as prestações.
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No Brasil, a irresponsabilidade social atinge todos os segmentos -inclusive e sobretudo o governo. Não foi Fernando Henrique Cardoso quem estimulou o descumprimento pelas empresas dos direitos sociais dos trabalhadores?
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Boas notícias, para compensar. Recebi ontem telefonema de Jorge Cunha Lima, da TV Cultura de São Paulo. Ele informou que a Fiesp está para aprovar apoio aos programas educativos infantis. As gravações foram suspensas por falta de verbas.
Continuo achando que a Cultura deveria montar um esquema para receber doações de famílias preocupadas com a educação de seus filhos. Sou o primeiro da fila.
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Excelente exemplo que vem do governo do Distrito Federal: multar quem joga lixo na rua.
É uma idéia civilizada e tem tudo para dar certo em São Paulo, que deu exemplo ao Brasil ao tornar obrigatório o cinto de segurança.
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Fabricantes de remédios (Abifarma) doaram R$ 6 milhões, via Comunidade Solidária, para agentes públicos de saúde que atuam nos bairros pobres.
É o efeito Bill Gates.

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