São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
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DESEMPREGO CONSENTIDO

O IBGE registrou em fevereiro a maior taxa de desemprego do Plano Real. No Brasil, além dos efeitos do avanço tecnológico, que intrigam o planeta e colocam o desemprego como um desafio mundial, a freada na economia e o crescimento das importações têm pressionado pelo fechamento de vagas.
Como nenhum desses três fatores pode ser facilmente contornado, o espaço para as necessárias medidas de combate ao desemprego é bastante estreito. A dificuldade está no fato de que tanto a moderação no ritmo de crescimento como a acirrada competição externa estão entre os principais fatores de sucesso no combate à inflação. E o avanço tecnológico é necessário para que a população possa gozar de maior bem-estar no futuro.
Se de fato não há solução simples nem definitiva contra o desemprego, é também verdade que a resposta do governo está aquém do desejável.
A iniciativa do Ministério do Trabalho para estimular a abertura de novas vagas com a redução de encargos nos contratos por tempo determinado é certamente meritória, porém insuficiente. Entre as causas do desemprego estão recentes decisões de política econômica e desarranjos institucionais, como o financiamento da Previdência com base na folha de salários. Ambas escapam à esfera exclusivamente trabalhista.
Os dados do IBGE mostram que a tendência de queda no nível geral de emprego vem ocorrendo desde maio do ano passado, pouco depois da alta dos juros e do arrocho creditício que desaceleraram o ritmo de crescimento do país. Sem uma evolução expressiva da economia, que compensasse os efeitos da informatização e da adoção de tecnologias poupadoras de mão-de-obra, a demanda de trabalho começou a encolher.
A atual insistência na manutenção de taxas de juros elevadíssimas, apesar da inadimplência, dos índices excepcionalmente baixos de inflação e do estoque recorde de reservas internacionais sugere que o governo tolera um nível de desemprego maior do que o estritamente necessário para manter a estabilização. É uma opção pela segurança. Talvez compreensível, mas extremamente dolorosa.

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