São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
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Imaginação

ANTONIO DELFIM NETTO

Charles Darwin, no primeiro volume da "Origem do Homem", diz que "a imaginação é um dos mais altos privilégios do homem. Por essa faculdade ele une imagens passadas e cria brilhantes e novos resultados".
E completa logo a seguir: "O sonho é a mais completa realização dessa capacidade". A mais clara demonstração da verdade recolhida na observação darwiniana é a defesa que os técnicos do governo fazem da insensata apreciação do real que imprudentemente realizaram.
Para eles não é importante que o Brasil não possa crescer mais do que 3% ao ano nos próximos dois ou três anos devido à armadilha cambial.
Afinal, quem poderia exigir mais senão os miseráveis gulosos e impacientes desempregados? Ou então os que querem a volta da inflação!
Usando uma competente retórica, garantem aos pobres diabos que com mais dois ou três anos de resignação eles voltarão a comer, principalmente se reelegerem o monarca...
Como não querem que o Brasil cresça mais do que 3%, não lhes causa aflição que nossas exportações tenham aumentado 7%, enquanto o comércio mundial se expandiu 19% em 1995. O quadro abaixo mostra o trágico resultado:
Os "nouveaux économistes" querem nos fazer crer que não tem importância perdermos a oportunidade de aproveitar as baixas de tarifas da Rodada do Uruguai. As exportações são assim: vão e voltam.
Se esperarmos dois ou três anos para reduzir o "custo Brasil" tudo vai dar certo, porque rapidamente recuperaremos o tempo perdido.
Fingem que não aprenderam que existe uma histerese nas exportações e que depois de algum tempo sua recuperação exige novos e demorados investimentos.
O caso argentino é o nosso no espelho: as suas exportações cresceram porque valorizamos o real e, assim, desvalorizamos o peso.
Quem investirá no Brasil, a não ser as privilegiadas multinacionais, para ampliar as exportações na esperança de que daqui dois ou três anos reduziremos o "custo Brasil", se até hoje os créditos do PIS-Pasep-Cofins ainda não foram completamente regularizados?
Só aqueles que não sabem, como Samuel Johnson, que "todo excesso de esperança sempre será pago com sofrimento".

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