São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
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Idéia fixa

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A Constituição de 1946 foi feita sob o trauma do Estado Novo. Proibiu, entre outras coisas, a reeleição dos principais cargos executivos. Em 1988, com o baque do regime militar, a Constituição nem considerou o assunto, limitando os mandatos em quatro anos.
Tivemos o caso de Sarney, que descolou cinco anos naquela base. Foi a principal mancha de seu governo: comprometeu toda a máquina administrativa e política a um desejo pessoal. O Plano Cruzado foi um grave erro de seu governo, mas era bem-intencionado. O mandato de cinco anos representou uma esperteza fisiológica.
Temos agora o caso de FHC. Ele é a favor da reeleição. Como alternativa, parece que ele topa ficar cinco anos. Tudo bem. A tese merece consideração. Na pior das hipóteses, obriga o presidente a pensar duas vezes antes de fazer besteira.
Desgraçadamente, FHC quer a reeleição não em caráter de tese constitucional. Quer apenas beneficiar-se com novo mandato, usando para isso a mecânica fisiológica que ele adotou com escandaloso sucesso nos casos da CPI e da Previdência.
Foi preciso um sociólogo na Presidência para escancarar uma ambição pessoal acima da lei maior do país. Quando FHC criticou o mandato de cinco anos de Sarney já estava agindo por interesse pessoal. Ele tinha pressa no rodízio para chegar lá. Uma vez chegando, quer ficar o maior tempo, se possível para sempre.
Nem cumpriu metade do mandato e, como o Juquinha, só pensa naquilo. A decantada articulação política, que lhe é atribuída por seus áulicos, tem como eixo o "Diário Oficial". E como diâmetro a goela dos políticos fisiológicos de todas as origens e feitios.
A ética de FHC é simples e simplória: o lucro a qualquer custo. A vantagem pessoal. O despreparo psicológico para compreender que o país é maior do que ele.

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