São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
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Vale de Casblanca pode colocar chilenos em novo patamar

JORGE CARRARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma nova região vinícola pode colocar os vinhos chilenos (especialmente os brancos) num novo patamar: O vale de Casablanca.
Localizado no centro do país, durante décadas sua ondulada paisagem serviu apenas como árido marco para a torrente de turistas que habitualmente transitam entre a capital, Santiago, e o lazer na costa do Pacífico, em Viña del Mar. Foi a visão de Paulo Morandé, enólogo-chefe da vinícola Concha y Toro, que mudou o papel decorativo do lugar.
No início da década de 80, ele viajou aos Estados Unidos, e voltou da Califórnia convencido que Casablanca tem características similares da famosa região de Carneros -localizada ao norte da cidade de San Francisco.
O enólogo acabou concluindo que as regiões possuíam solos parecidos (combinando terrenos arenosos e de argila) e o mesmo clima (moderado por idênticas correntes de ar frio originadas no Pacífico), tendo portanto a mesma vocação para o cultivo de uvas brancas e de tintas delicadas, como a Pinot Noir.
Morandé plantou pouco tempo depois os primeiros 20 hectares de videiras na região.
As vinificações iniciais provaram que os vinhos de Casablanca tinham mais vivacidade, intensidade de fruta e elegância que os das regiões tradicionais.
Hoje há no vale cerca de 1.600 hectares de vinhedos (principalmente de uva Chardonnay), e vários pesos-pesados da vitivinicultura mundial ancoraram lá. Entre eles estão a Franciscan Estates da Califórnia e a Concha y Toro.
São precisamente da Concha y Toro os dois primeiros brancos de Casablanca a aportar por aqui, ambos Chardonnay. O Casillero do Diablo, safra 94, tem paladar vivaz e intenso (marcado por frutas tropicais) bem-temperado com carvalho (leve cravo, pipoca, toque amanteigado).
Já o Amelia 93 está mais marcado pela madeira. A fruta e a acidez estão lá, mas Morandé poderia ter suavizado a mão no carvalho para destacar a fruta de Casablanca, que ele mesmo descobriu.
Gaetane Carron, enóloga francesa do Franciscan Estates, acredita que os vinhos do vale enriquecidos com o corpo dos de regiões mais cálidas, criaria brancos de qualidade superior. Basta experimentar Chardonnays da região do Maipo, como o Marqués de Casa Concha 94, da Concha y Toro, um vinho encorpado, viscoso, "gordo" (com baixa acidez) mas intenso e complexo, para imaginar que ela pode estar certa.
Afinal, os "vignerons" de Champagne (no norte da França) há séculos combinam as diferentes qualidades de dezenas de vinhedos para dar brilho aos seus belos espumantes, mostrando que, em matéria de vinhos, o produto final pode ser bem mais delicioso que a somatória das partes.

Onde encontrar: Casillero del Diablo (avaliação 86/100, R$ 11,10) - Casa Santa Luzia (al. Lorena, 1471, tel. 883-5844); Amelia (84/100, R$ 16,50) - Expand Importadora (av. Cidade Jardim, 790, tel. 816-2024); Marquês de Casa Concha (86/100, R$ 8,04) - Sul Mineira (r. Joaquim Floriano, 936, tel. 820-228)

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