São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 1996
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PM reprime caminhadas de sem-terra

DA AGÊNCIA FOLHA

Policiais militares de Minas Gerais e Alagoas reprimiram ontem caminhada de trabalhadores rurais sem-terra à véspera de ato nacional em favor da reforma agrária e contra o desemprego, previsto para hoje em diversas capitais.
A PM de Minas fez operação para apreender ferramentas dos 400 manifestantes que caminham rumo a Belo Horizonte (MG). Cinco pessoas ficaram feridas.
Foram detidas 16 pessoas, sendo 12 sem-terra (entre eles um adolescente), 3 sindicalistas e 1 padre.
Os sem-terra foram barrados pela polícia ontem pela manhã na BR-262, a 18 km de Belo Horizonte, com a determinação de que só prosseguiriam a marcha se entregassem as ferramentas.
Mandado
Os sem-terra resistiram até o início da tarde, quando os 150 policiais do Batalhão de Choque da PM agiram. Encurralados em um muro e tiveram as ferramentas apreendidas.
Ênio Bonemberguer, dirigente nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), disse que a polícia "usou de violência desnecessária".
O tenente-coronel Cançado negou que a PM tenha sido violenta. "Foi empregada a força. Violência eu não vi." Foram apreendidas, segundo a PM, 67 ferramentas.
Os advogados dos sem-terra disseram que oito dos detidos iriam ao Instituto Médico Legal fazer exame de corpo de delito.
Alagoas
Oitenta homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Alagoas mantiveram por 23 horas 550 sem-terra cercados dentro do colégio Dom Bosco, de Matriz do Camaragibe (80 km ao norte de Maceió), primeira escala da marcha.
Antes de entrarem na escola, às 18h de anteontem, vindos de Porto Calvo (AL), os sem-terra foram cercados e obrigados a entregar foices, enxadas, machados e facões, que carregavam.
Para serem liberados, às 17h30 de ontem, cederam e aceitaram serem cadastrados pela PM.
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Alagoas, Romany Cansanção, afirmou que as ações da PM ferem a Constituição. "Parece-me uma cautela exagerada, que está atentando contra a garantia constitucional de ir e vir dos cidadãos."
O comandante da PM alagoana, coronel João Evaristo dos Santos Filho, negou que os sem-terra tenham sido detidos. Segundo ele, a retirada das ferramentas foi uma questão de segurança pública.

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