São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 1996
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Paranóia pura

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Confesso um profundo fascínio por figuras como Rudiger Dornbusch, Jeffrey Sachs e demais cabeças coroadas de Harvard, MIT etc.
Não porque acredite no que dizem. Mas porque exibem uma formidável coleção de certezas absolutas sobre tudo.
Para quem só tem dúvidas a respeito de quase tudo, é um consolo. Fico com a sensação de que, estudando muito, ainda vou conseguir ter alguma certeza, uma que seja.
Talvez por isso, fiquei meio chocado com a chuva de pancadas que se abateu sobre Dornbusch depois da entrevista que deu à Folha. Parece que as cabeças coroadas tupiniquins só reverenciam o pensamento alienígena quando coincide com o delas.
O que disse Dornbusch de tão demoníaco? Em resumo e simplificando, que um pouco mais de inflação não seria uma catástrofe, desde que acompanhada de um crescimento bem mais robusto.
A reação tupiniquim parece em perfeita sintonia com a paranóia dos mercados financeiros em relação à inflação. Paranóia que acaba de conhecer novo surto nos EUA. Subiram os juros só porque estão sendo criados mais empregos do que se esperava.
Fica a sensação de que criar empregos é um fenômeno negativo, ao menos do ponto de vista da ditadura dos mercados financeiros. Ou de que se está na iminência de um superaquecimento econômico, que geraria um salto da inflação.
Bobagem. A mais recente previsão sobre a economia norte-americana (Fundo Monetário Internacional, final de março) crava para 96 um magro crescimento de 1,9%.
Claro que, no Brasil, a chaga inflacionária é mais recente e mais enraizada. Nem assim se justifica a fogueira armada sob os pés de Dornbusch, tão despropositada quanto a canonização que dele se fez em ocasiões anteriores.

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