São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 1996
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MST despista a PM e invade Incra em SP

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em ação que pegou de surpresa a Polícia Militar, um grupo de 150 sem-terra paulistas ocupou ontem à tarde, em São Paulo, a sede regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
A invasão ocorreu às 16h, no mesmo instante em que outros 2.000 sem-terra, escoltados por 200 PMs, realizavam passeata pelo centro da cidade (avenida Paulista), que terminou com ato na Sé.
A ocupação do Incra foi decidida anteontem à noite e mantida em sigilo pela direção do MST. Após o ato na Sé, os outros sem-terra se juntaram aos que ocuparam a sede paulista do órgão federal.
Ontem, houve manifestações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em 17 capitais do país. Os sem-terra buscam apoio nos grandes centros urbanos para a reforma agrária e, por isso, incluíram slogans contra o desemprego nas manifestações.
O MST paulista faz duas exigências para sair do Incra. Em primeiro lugar, cobra a liberação emergencial de recursos para assentamentos (cerca R$ 9 milhões).
Além disso, exige a desapropriação de oito fazendas consideradas improdutivas no Estado, onde, pelas contas do MST, poderiam ser assentadas 1.500 famílias.
"Não sairemos do Incra antes de negociar soluções porque, quando voltarmos ao campo, não vamos ficar de braços cruzados", disse o líder nacional do MST José Rainha.
O MST quer ter hoje uma audiência com o governador paulista, Mário Covas (PSDB). Ontem, Covas não respondeu à solicitação.
O governo do Estado não cumpriu acordo de assentar mais 525 famílias no Pontal do Paranapanema até 31 de março último.
A passeata, em dupla fila indiana com bandeiras e cruzes, parou o trânsito na região da Paulista e da Brigadeiro Luiz Antônio. Não houve incidentes. De prédios de órgãos públicos, houve chuva de papel picado.
Durante a marcha, líderes dos sem-terra -temendo repercussão negativa pela interrupção do trânsito- pediam desculpas à população: "Estamos caminhando para não deixar o campo e vir morar debaixo da ponte ou nas favelas".
A escolta da PM assustou o filho de Rainha, João Paulo, 2: "Olha a polícia, ela vai prender mamãe", disse o garoto. Rainha explicou que não era o caso. Diolinda Alves de Souza, sua mulher, esteve presa por 47 dias no início do ano.
A candidata a prefeita de São Paulo pelo PT, Luiza Erundina, foi à Paulista e almoçou, na calçada junto com Diolinda, a marmita dos sem-terra (arroz, feijão e bife).
O ato teve a presença do presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho. Para ele, CUT e MST devem estreitar relações.
O MST pediu nova audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso para cobrar, entre outros itens, a votação de lei que apressa a desapropriação de terras.

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