São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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NA PONTA DA LÍNGUA

MARCELO LEITE

O estilo da Folha tem desígnios inescrutáveis. Não consigo atinar com a razão que leva um jornal a escrever num texto noticioso o preciosismo "vindícia" e, na mesma edição, cometer um erro tão palmar quanto "dispendido" -e logo no texto da manchete da Primeira Página.
Vá lá que "desígnios inescrutáveis" e "erro palmar" também são de doer, em matéria de pedantismo. A diferença reside em que este não é um texto noticioso. Colunistas têm mais liberdade de estilo, embora devam tentar adequar-se à norma da casa (o princípio geral na Folha é coloquializar/simplificar a linguagem, sem afastar-se da chamada norma culta).
"Vindícia", portanto, caminha no sentido oposto. Surgiu no meio de um texto de economia ("Murdoch obtém vitória no Congresso", pág. 2-12 de anteontem). Deixou-me com a pulga atrás da orelha, que matei com a ajuda de um dicionário: significa "reivindicação". Nunca deveria aparecer numa reportagem.
Da mesma maneira, jamais poderia ocorrer de um texto da capa do jornal -talvez a mais revisada e burilada de todas as páginas- apresentar a enormidade "dispendido". Muito menos na Folha, cujo "Novo Manual da Redação" alerta na pág. 68 para esse erro comum: "Não existe dispender, embora o substantivo correspondente seja dispêndio".
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Os critérios para publicação de erramos continuam fluidos. É o que está acontecendo com erros em grafia de nomes estrangeiros, cuja retificação não obedece a qualquer lógica.
Recentemente, a Secretaria de Redação corrigiu falhas indicadas pelo ombudsman em nomes como Schumacher, Cobain, Warhol. No entanto, recusou-se a corrigir um "Antonio di Pietro" (magistrado italiano da Operação Mãos Limpas) com um bruta de um circunflexo no "Antônio".
Resposta da Secretaria ao erro apontado na pág. 1-13 de 3 de abril (Mundo: "SR não vê necessidade de erramos".
É verdade que os erros mencionados mais acima aconteceram em títulos e legendas, muito mais visíveis, não no meio do texto. E daí? Erros não são mais ou menos graves em função da quantidade de pessoas que podem percebê-los.
Erros em nomes próprios estrangeiros deveriam sempre ser corrigidos. Especialmente quando cometidos numa seção em que redatores supostamente têm maior familiaridade com línguas estrangeiras.

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