São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996 |
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Machismo provoca indenizações recorde
IGOR GIELOW
Há duas semanas, Christine Esplin levou o equivalente a US$ 225 mil ao fazer acordo com seus ex-patrões da QS Familywear, uma empresa têxtil, para evitar a ida de seu caso a julgamento. Em 1993, Christine ocupava o cargo de diretora de pessoal da QS e ganhava o equivalente a US$ 5.200 por mês, com direito a carro da empresa e seguro de saúde. Em dezembro daquele ano, seu salário equivalia a 72% do que cada um dos outros cinco diretores homens da empresa ganhava. "Achava aquilo um absurdo", disse à Folha. Decidiu reclamar. Christine escreveu uma carta pedindo equivalência de salário para a empresa, com cópia para um tribunal de pequenas causas em Brighton, onde trabalhava. "Eles ficaram furiosos e me demitiram", conta Christine, que é solteira e não diz a idade. Depois de pouco mais de dois anos, para evitar uma condenação judicial que prejudicasse a imagem da empresa, ficou acertado o acordo recorde de US$ 225 mil. Comissão Cerca de 30 casos como o de Christine -que agora está empregada em uma empresa rival- ocorrem por ano, segundo a Comissão de Oportunidades Iguais. O órgão foi criado para acompanhar o Ato de Discriminação Sexual, de 1975, que deu subsídios legais para a defesa das britânicas. "O caso de Christine é interessante porque, até então, ao ir a júri as indenizações ficavam num teto de US$ 16 mil. Agora, acordos podem elevar muito os valores", disse a diretora-adjunta da comissão, Diana Brittan. Segundo a comissão, que pertence ao governo britânico, em geral casos menores acabam em tribunais de pequenas causas. Não existe estatística específica, mas a comissão diz que a maioria das queixas se refere a "cantadas" e outras formas menos sutis de assédio sexual. Forma heterodoxa Na sexta-feira retrasada, foi a vez de Helen Bambe, 32, resolver sua briga com os ex-patrões. Negociadora de títulos no mercado financeiro da City, coração econômico de Londres, Helen trabalhava para o banco japonês Fuji numa jornada de 14 horas diárias. No ano passado, ela pediu formalmente aumento para os patrões. Ela não revela o salário que ganhava. Não teve resposta. O problema, segundo Helen, é que outros dois negociadores que trabalhavam com ela recebiam promoções sucessivas sem mostrar mais ou menos serviço. Ela voltou a reclamar. Também sem dar detalhes sobre a abordagem, Helen conta que ele sutilmente disse que a situação poderia ser resolvida de uma forma heterodoxa -na cama. Ela negou e, uma semana depois, estava na rua. O caso foi parar na corte central de Londres, que deu ganho inicial de causa para a demitida -hoje também empregada. O banco negou a acusação de machismo e acabou condenado a pagar US$ 121 mil para Helen. Futuro A indenização, a segunda maior já paga no Reino Unido, é um exemplo do que está por vir, na opinião de grupos de defesa dos direitos da mulher. Segundo o Fem's Action, que acompanha casos de demissões de mulheres, a tendência é que o número de casos aumente com a divulgação das disputas ganhas. Texto Anterior: O que mudou com o PAS Próximo Texto: Festa causa demissão Índice |
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