São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Garoto teve a namorada, mãe do bebê, assassinada, mas diz que não poderia ficar triste para sempre

'Esfrio a cabeça vendo minha filha sorrir'

LALO DE ALMEIDA; ROGÉRIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

A violência faz parte do cotidiano dos garotos de rua, que já criaram uma certa resistência, transformando episódios trágicos em "fatos da vida".
Alexandre Britto, 18, o "Chupeta", teve a namorada, "Rosaninha", com quem tem uma filha de 4 meses, morta a facadas por uma ex-namorada, a "Regininha", durante uma briga no vale do Anhangabaú.
Chupeta já está de namorada nova. "Fiquei muito triste com o que aconteceu, mas não posso ficar assim para sempre", diz.
A filha, Alexandra, mora com os pais dele, no Jardim Brasil (zona norte). Chupeta diz que vai visitá-la todos os fins-de-semana. "Se eu estou de cabeça quente, é só ver a minha filha dando risada que passa", diz.
Chupeta tem ainda uma outra filha, de 1 ano, que mora com a mãe.
Ele diz que vai voltar para casa quando arrumar um emprego. Já trabalhou como marceneiro, cobrador de ônibus e office-boy, mas diz que está difícil arrumar um trabalho. "Ninguém quer empregar um garoto de rua", diz.
Apesar de já ter experimentado praticamente todos os tipos de droga, diz que hoje não consome mais nada. "Só cigarro, que não consigo largar", diz.
Chupeta diz que compra jornal quase todos os dias, para ler a parte de esportes. Apesar de ser torcedor fanático do São Paulo, diz que vai pouco aos estádios, por falta de dinheiro e por medo de brigas.
Chupeta tem uma frustração: não ter conseguido jogar futebol profissionalmente. Ele conta que treinou na Portuguesa por uma semana, quando tinha 14 anos, mas não pôde continuar treinando por falta de alojamentos no clube.
"Era muito difícil conseguir chegar lá todo dia às 7h para treinar", diz.
(LA e RW)

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