São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Extremismo entre soldados preocupa

Exército investiga influência de radicais

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Grupos racistas, gangues e milícias extremistas tentam aumentar seus quadros recrutando membros dentro do Exército americano. Um levantamento interno revela que 7,1% dos soldados da corporação têm alguma ligação com essas organizações.
Foram aplicados questionários a 17.080 soldados, entre janeiro e fevereiro, em 28 instalações nos EUA, Alemanha e Coréia do Sul.
Uma força-tarefa especial, criada exclusivamente para a pesquisa, fez ainda 7.638 entrevistas pessoais, onde 1,5% dos soldados admitiu participar diretamente desses grupos.
Atualmente, o Exército vem registrando uma diminuição na participação de minorias nas unidades de combate, principalmente nas tropas de elite. As Forças Armadas admitem que isso acaba favorecendo a disseminação de teorias da supremacia da raça branca entre a corporação.
Também está se torna cada vez mais comum a atividade de grupos extremistas em regiões próximas às instalações do Exército. O estudo classifica como "evidente" a tentativa dessas organizações em recrutar soldados.
Pelo menos 3,5% deles já haviam sido convidados para se juntar a algum desses grupos, e mais de 17% afirmaram já ter entrado em contato com material de propaganda extremista ou racista
Crimes
A maioria das organizações que utiliza essa tática é ligada aos chamados "crimes de ódio", ou seja, atentados motivados por raça, sexo ou país de origem.
Segundo o FBI, foram cometidos 5.852 crimes de ódio no país durante 1994. São pelo menos 16 atentados por dia, dos quais 60% por motivos raciais. Entre os autores dos crimes que foram identificados, 57% são homens brancos.
As milícias (grupos paramilitares), por sua vez, são mais ativas nas áreas de floresta ou rurais.
O principal problema, segundo o estudo do Exército, são as gangues. Por não estarem diretamente vinculadas à violência política, encontram maior resposta entre os soldados, embora também sejam caracterizadas por comportamento violento, condenado pela corporação.
A maior dificuldade do estudo foi como classificar a cultura "skinhead", presente em todas as instalações visitadas. Em muitas das entrevistas, soldados afirmaram gostar da cultura punk sem aderir à violação de direitos civis.
Apesar de considerar "mínima" a infiltração de grupos extremistas, o estudo recomenda algumas medidas para combater o problema. Entre elas estão a avaliação periódica do comportamento dos soldados e a expansão das atividades do Exército na regulação de atividades extremistas.
Caso Fayetteville
A preocupação das Forças Armadas com o tema aumentou após três soldados de elite terem assassinado um casal de negros na Carolina do Norte, por motivos raciais, em dezembro de 95.
Segundo os registros da polícia, os soldados James Norman Burmeister, Malcolm Wright e Randy Lee Meadows, todos servindo em Fort Bragg, teriam decidido "caçar negros", após ficar bêbados.
Eles encontraram Michael James e sua amiga Jackie Burden numa rua de Fayetteville. Após provocarem uma discussão, dispararam cinco tiros contra o casal. Os dois morreram na hora.
A arma usada no assassinato foi encontrada junto de bandeiras nazistas e livros da Klu Klux Klan. Os soldados foram presos no dia seguinte ao crime. Seu julgamento deve acontecer no meio do ano.
As investigações continuaram, e foi descoberto o envolvimento de outros soldados de Fort Bragg em crimes de gangues "skinheads". Ao final, 26 soldados ligados ao grupo foram identificados.

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