São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Escola do Harlem 'compete' com traficantes

GILBERTO DIMENSTEIN; PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Negro, dois metros de altura, usando roupas com estampas africanas, Joseph Stewart abre a janela do terceiro andar do prédio de número 242 da rua 114, no Harlem, uma das zonas mais violentas de Nova York.
Ele deixa entrar o vento frio da tarde de terça-feira, se debruça sobre o parapeito e aponta os locais da rua onde se vendem drogas. "É uma concorrência desleal", diz.
"Os traficantes oferecem US$ 20 por hora apenas para as crianças vigiarem as ruas. Muito mais se elas venderem." O salário mínimo nos EUA é de US$ 4,5 por hora.
Stewart trabalha há quatro anos naquele prédio, onde educa meninos e meninas para evitar o crime organizado, drogas e violência.
Ali está instalado um dos projetos-modelo de Nova York, desenvolvido na escola pública 194, marcada pela alta evasão, repetência e baixo aproveitamento -características comuns das escolas dos bairros pobres da cidade.
Por terem desempenho escolar ruim, as crianças viram marginais no mercado de trabalho e, assim, alvos do crime organizado. "Muitos dos irmãos mais velhos, tios e até pais de nossos alunos são traficantes", afirma Joseph Stewart.
Aquela escola foi escolhida para abrir o projeto comunitário do "Rheedlin Center for Children and Families" justamente porque batia todos os recordes de violência da região. "No mês em que chegamos aqui, foram quatro assassinatos de jovens, por causa da droga", lembra-se Joseph.
O homicídio é a principal causa de morte entre os jovens de 15 a 20 anos em Nova York.
O intenso comércio de drogas na região acaba ainda isolando os adultos dentro de casa, principalmente à noite. A falta de recreação, entre outras coisas, contribui para aumentar a violência doméstica.
Programa diversificado
A estratégia do Countee Cullen Center, como foi batizado o centro comunitário da escola 194, foi desenvolver programas para todos: adultos, jovens e crianças. O local, revitalizado, virou ponto de encontro e de referência, inclusive à noite e nos finais de semana.
O funcionamento noturno é tido como uma das chaves do sucesso do programa, já que não há nada acontecendo no horário na região, a não ser a atividade das ruas.
Os resultados do trabalho na escola primária já começaram a aparecer. Segundo Stewart, a evasão e a repetência entre os alunos menores caiu drasticamente.
O centro também mantém um conselho de ajuda para dependentes de drogas e uma linha telefônica que atende emergências.
Todas essas atividades são mantidas com um orçamento anual US$ 750 mil, levantados em várias fundações norte-americanas. Atualmente, há 35 centros semelhantes ao Countee Cullen funcionando em Nova York.
(GD e PD)

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