São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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TUDO PELA FAMA

A trágica morte de Jessica Dubroff, a garota de sete anos que tentava tornar-se a mais jovem aviadora a cruzar os EUA de costa a costa, enseja uma reflexão sobre o desejo da fama.
Sabe-se lá por quê, o ser humano, ou pelo menos a maioria deles, parece ter uma necessidade às vezes incontrolável de atingir o reconhecimento. No caso de Jessica, esse desejo soa mais como de lavra de seus pais do que dela mesma, afinal, a síndrome da glória manifesta-se mais comumente a partir da adolescência.
O fato é que, por efêmeros minutos na TV ou poucas linhas nos jornais, há gente que se dispõe a arriscar a própria vida, ou, pior, a de seus filhos. A própria bíblia das mais tolas das famas, o livro "Guiness" dos recordes, retirou de suas marcações categorias que poderiam levar pessoas a tentar fazer coisas perigosas apenas para figurar na publicação. Uma delas era a de piloto mais jovem.
Isso não bastou para salvar a vida de Jessica. Seus pais, ao que tudo indica, se contentavam com as parcas menções nos noticiosos e a sensação de ter o ego preenchido, de ter, de alguma forma, se destacado da multidão, mesmo que por uns breves instantes.
Não se pretende aqui convencer as pessoas de que não devam ter ambições ou perseguir seus sonhos de realização. O que se deseja é traçar os limites entre a fama tola, a dos 15 minutos na definição de Warhol, e a fama perene, digna de ser almejada.
Tome-se o caso de Mozart, um dos maiores gênios musicais de todos os tempos. O feito de ter tocado para o imperador da Áustria com apenas seis anos certamente lhe teria reservado um lugar no livro dos recordes, se ele existisse na época; mas o que o tornou famoso de fato, imortal mesmo, é sem dúvida o conjunto de sua obra. Se tivesse se limitado ao primeiro feito, hoje estaria esquecido.
A audácia à fortuna ajuda, já diziam os antigos, mas é sempre melhor aplicar os esforços em busca de objetivos mais elevados do que, por exemplo, figurar no "Guiness" como o homem que cospe mais longe.

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