São Paulo, segunda-feira, 15 de abril de 1996 |
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Rio de água tratada corta sertão alagoano
ARI CIPOLA
Com 35 quilômetros, o curso de água é criado pelo excedente não-canalizado que sai da estação de tratamento de Olho d'Água das Flores, no oeste do Estado. Mesmo trabalhando com um terço da capacidade, a Adutora da Bacia Leiteira de Alagoas joga fora 600 mil litros de água tratada por hora -suficientes para abastecer uma cidade de 300 mil habitantes. O desperdício é provocado pelo diâmetro insuficiente da tubulação que sai da estação de tratamento. Entre Pão de Açúcar, onde a água é captada no rio São Francisco, e Olho d'Água das Flores, a tubulação tem 700 milímetros de diâmetro. Esse é o trecho concluído da Adutora da Bacia Leiteira. A partir de Olho d'Água, onde ficam a estação de tratamento e os reservatórios, a tubulação tem 30 anos e seu diâmetro cai para 300 e 200 milímetros. A água desperdiçada faz falta aos 17 dos 19 municípios da região que a obra visa abastecer. A produção da única bomba (das três instaladas) que funciona em Pão de Açúcar é de 1,4 milhão de litros/hora (e ela só trabalha dez horas por dia). Mas a tubulação antiga só absorve 800 mil litros/hora. Caminho de volta A água que sobra é lançada a céu aberto na área urbana de Olho d'Água e cai no riacho do Tanque -que, até a inauguração da adutora, no ano passado, só tinha água em seu leito de junho a agosto. Depois de 35 quilômetros correndo a céu aberto, a água acaba voltando para o rio São Francisco. Ao longo do riacho, produtores rurais fizeram dezenas de pequenas barragens e estão aproveitando a água para irrigação. Nos finais de semana, as represas atraem banhistas. O prefeito de Olho d'Água, Humberto dos Anjos (PFL), 56, comprou o terreno onde a água é despejada e está construindo três piscinas. "Comprei o terreno e construí tudo com meu dinheiro. Colocarei uma placa dizendo 'propriedade de Humberto dos Anjos' e vou abrir para o povo. Nunca mais serei esquecido na região", diz. Guerra A iniciativa gerou uma guerra política na região. Menoí Pinto (PSC), prefeito de Santana do Ipanema, maior cidade da região (cerca de 60 mil habitantes), pede ao governo do Estado o fechamento do cano pelo qual sai a água. "É uma vergonha ter gente morrendo de sede, comprando água de carros-pipa, torneiras das casas secas e tanta água sendo jogada fora", afirma Pinto. "A população já se acostumou com a fartura de água aqui. Se cortarem, vai ser por pura vingança política", responde o prefeito de Olho d'Água. A Adutora da Bacia Leiteira de Alagoas é uma obra orçada em R$ 48 milhões, o equivalente a um mês da folha de pagamento dos 76 mil servidores estaduais. O governo federal, por meio dos ministérios da Agricultura e Irrigação, já pagou R$ 28 milhões à empreiteira Sérvia, que constrói a obra, segundo dados da Secretaria de Saneamento e Energia do Estado. O Orçamento da União de 96 prevê R$ 8 milhões para a obra. O dinheiro, diz a secretaria, será aplicado na duplicação da tubulação no ramal Olho d'Água-Jacaré dos Homens-Batalha e na construção do reservatório de Batalha. Para que a água chegue com maior regularidade aos 17 municípios, seria ainda preciso duplicar a tubulação entre Olho d'Água e Santana do Ipanema e construir outro reservatório. Suspeita A adutora está na lista de obras suspeitas de superfaturamento no Tribunal de Contas da União. O tribunal suspeita da compra de materiais de qualidade inferior ao previsto no contrato da obra. O secretário de Saneamento e Energia de Alagoas, Luiz Dantas, disse que está convocando os ex-secretários da pasta para que eles respondam aos questionamentos do tribunal. Texto Anterior: Classifolha Campinas passa a ser publicado também às terças Próximo Texto: Rio vai secar, diz governo Índice |
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