São Paulo, segunda-feira, 15 de abril de 1996
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Lima ataca prostituição com fotografia

ANTONIO ROCHA FILHO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Eleito com 1,6 milhão de votos (54% do total), o empresário e advogado Alberto Andrade, 52, tomou posse do cargo de prefeito de Lima, capital peruana, no último dia 2 de janeiro.
Nesses cem dias, adotou medidas polêmicas para tentar melhorar a segurança, o transporte e a limpeza urbana -os principais problemas da cidade, segundo ele.
A medida mais criativa, na opinião do próprio Andrade, foi a adotada no combate à prostituição, que estaria "diretamente ligada à delinquência".
Logo no início da atual administração, funcionários da prefeitura começaram a fotografar os carros que iam às áreas de prostituição. No dia seguinte, era publicada nos jornais uma lista com marca, modelo, placa e cor dos carros.
Segundo Andrade, a medida surtiu efeito. "Ninguém queria ver seu carro em uma lista dessa nos jornais. Isso esvaziou as áreas de prostituição, que hoje existe mais às escondidas", diz Andrade.
Associada ao "serenazgo", uma espécie de guarda municipal que faz rondas noturnas, a medida chegou a reduzir em 60% o número de roubos, segundo o prefeito.
No último dia 29 de março, durante um intervalo da 4ª Conferência do Centro Ibero-Americano de Desenvolvimento Estratégico Urbano (Cideu), em Salvador (BA), Andrade deu a seguinte entrevista à Folha.
*
Folha - Por que o senhor decidiu combater a prostituição como forma de diminuir a violência urbana?
Alberto Andrade - Além do aspecto negativo de haver prostitutas e travestis nas ruas, antes a prostituição acontecia em bairros residenciais, gerando roubos, tráfico de drogas e brigas.
Folha - O problema foi resolvido?
Andrade - Sim. Paralelamente, foram tomadas outras medidas por meio do "serenazgo" (significa "patrulha da noite").
Folha - Como ele funciona?
Andrade - São patrulhas que circulam pelas ruas e que podem ser acionadas pela população por um telefone central. Os guardas têm que chegar em no máximo cinco minutos após a chamada.
Folha - Há guardas em toda a cidade?
Andrade - Os 42 distritos da cidade são divididos em setores. Em cada setor, há um ou dois patrulheiros.
Folha - A quem o "serenazgo" está subordinado?
Andrade - À prefeitura, que contrata policiais em férias (a polícia peruana é do governo federal).
Folha - Há a participação do cidadão comum no policiamento?
Andrade - O cidadão participa fiscalizando. Como os guardas estão divididos por região, eles têm que estar em seus lugares. Se não estiverem, o cidadão liga para o telefone central e avisa que o guarda número tal está fora de sua região. O lema é: "O serenazgo cuida de ti, você cuida do serenazgo". O cidadão tem que cuidar ainda para que o guarda não se corrompa. Não deve oferecer dinheiro e deve denunciar sempre que houver irregularidades.
Folha - Quantos homens tem o "serenazgo"?
Folha - Há cerca de 3.000 patrulheiros em Lima, 220 só no distrito de Miraflores. Mas esse número está sempre crescendo.
Folha - Essa patrulha foi criada pela prefeitura de Lima?
Folha - Não. Ela surgiu quando eu era prefeito do distrito de Miraflores, um dos mais importantes de Lima. (Cada distrito de Lima tem prefeito, vice-prefeito e vereadores próprios. Andrade governou Miraflores de 1991 a 95. Foi eleito em 90 com 93,5% dos votos.)
Folha - De onde vem o dinheiro para o pagamento do serenazgo?
Andrade - Cada núcleo familiar paga aproximadamente US$ 12 por ano, junto com outros impostos. Em Lima, a situação era muito tensa na época da guerra interna. A população exigia mais segurança. Quando criamos a taxa, a comunidade preferiu pagá-la.
Folha - O senhor teve algum fracasso em três meses de governo?
Andrade - Não posso falar em fracassos. Hoje temos muitos conflitos na cidade, em especial com os vendedores ambulantes, que estão invadindo o centro histórico de Lima e tentamos combatê-los.
Folha - O senhor soube dos conflitos com camelôs em São Paulo?
Andrade - Sim. Em Lima, a prefeitura tem o apoio da polícia nacional, não por minha vontade exclusiva. A população exige essa participação da polícia.
Folha - O que vocês fazem para combater a poluição do ar?
Andrade - Na área mais crítica, que é o centro, o tráfego de veículos de transporte de massa é proibido a qualquer hora. Só veículos particulares autorizados podem passar. Há bloqueios que impedem a passagem dos veículos.
Folha - O que o senhor acha de São Paulo?
Andrade - Estive lá uma vez. Acho São Paulo muito grande e limpa.
Folha - Qual a melhor cidade do mundo para se viver?
Andrade - Lima, sem sombra de dúvidas.

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