São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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FHC faz "intervenção branca" no Pará

RUI NOGUEIRA; REINALDO AZEVEDO

RUI NOGUEIRA
Secretário de Redação da Sucursal de Brasília
REINALDO AZEVEDO
Coordenador de Política da Sucursal de Brasília
O governo federal, por intermédio do Ministério da Justiça e do Exército, está promovendo uma "intervenção branca" na investigação do massacre dos trabalhadores sem terra em Eldorado de Carajás (PA).
A intervenção federal é consentida -o próprio governador do Estado, Almir Gabriel (PSDB), está pedindo a ajuda da União.
A ausência do poder público estadual e municipal no traslado dos corpos de Eldorado para Marabá e a forma como eles foram amontoados no porão do IML (Instituto Médico Legal) levaram o Ministério da Justiça a assumir os trabalhos de autópsia dos corpos.
Para apressar os trabalhos, José Gregori, chefe de Gabinete do ministro da Justiça, Nelson Jobim, "arrebanhou" em Belém um perito e dois auxiliares que foram se juntar aos outros nove -três titulares e seis auxiliares- que já trabalhavam em Marabá.
Os três foram colocados em um avião do governo federal e levados para Marabá. Eles tiveram de enfrentar a resistência dos legistas do Estado.
Autópsia
Para evitar que laudos da autópsia contenham erros de descrição e de análise, o Ministério da Justiça impôs a supervisão do perito Nelson Massini, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
O Palácio do Planalto teme que os erros nos laudos médicos possam ser posteriormente usados na defesa dos policiais responsabilizados pelo massacre.
O envio das tropas do Exército é outro ponto de intervenção federal. O governo estadual não consegue controlar a Polícia Militar, que, em sua maioria, trabalha nas horas de folga prestando serviços de segurança para os fazendeiros e madeireiros da região.
Os policiais agem nas operações a serviço do Estado como se estivessem apenas fazendo um "bico": eles não têm responsabilidade pública.
Militares
Foi esse perfil da Polícia Militar que levou o presidente Fernando Henrique Cardoso a mobilizar os militares para fazer a varredura na região à procura de novos corpos, que as lideranças dos trabalhadores sem terra afirmam estar espalhados pela mata. Os sem-terra acusam ainda a PM de ter ocultado os corpos de crianças mortas.
Extra-oficialmente, os membros do CDDPH (Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) afirmam que a maioria dos sem-terra foi morta com tiros de armas calibre 38.
Já há dois casos confirmados de mortos atingidos pelas costas. Pelo menos um trabalhador foi morto a golpes de foice.
A iniciativa de Fernando Henrique de se reunir com os chefes dos dois outros Poderes da República, na segunda-feira, às 17h, é outra demonstração de que o governo busca centralizar na esfera federal a resolução dos conflitos de terra.
O Ministério da Justiça convocará as lideranças dos trabalhadores sem terra para dizer que o ritmo da reforma agrária e da investigação dos conflitos têm de seguir o que Gregori chama de "farmacopéia democrática". Isso significa que o processo não depende só da vontade do Executivo.
José Gregori afirma ainda que, em conflitos como o que explodiu no Pará, na quarta-feira, "ninguém é anjo".

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