São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Exército proíbe policiais de deixar quartel

ABNOR GONDIM
ENVIADO ESPECIAL A CURIONÓPOLIS (PA)

Os corpos dos sem-terra mortos no Pará foram enterrados ontem de manhã. A maior parte (14) foi sepultada em Curionópolis. Outros cinco foram enterrados em Parauapebas (dois), Marabá, Eldorado de Carajás e Conceição do Araguaia. O velório, o cortejo e o enterro já foram controlados por soldados do Exército.
Ao todo, 600 militares da 23ª Brigada de Infantaria de Selva, sob o comando do general Adalberto Bueno da Cruz, assumiram a segurança pública em Curionópolis.
O general proibiu a Polícia Militar de sair do quartel. "Não precisamos de incendiários, mas de bombeiros", disse.
A ação do Exército é uma "intervenção branca" do governo federal no Pará para investigar o massacre dos trabalhadores sem terra.
Por volta das 12h, depois de 24 horas de varredura em 22 km2 em torno da área da chacina, 120 soldados encerraram as buscas sem encontrar novos corpos.
Familiares dos sem-terra dizem ter parentes desaparecidos desde, quarta-feira, dia do confronto.
Vinte agentes da Polícia Federal, deslocados para o município pelo Ministério da Justiça, ajudam o Exército a fazer as investigações e a controlar a segurança pública.
O general disse que o Exército não tem data para deixar o local.
Secretário
O secretário de Segurança, Paulo Sette Câmara, disse ontem que só vai deixar o cargo caso o governador Almir Gabriel determine.
O traslado dos 18 corpos de Marabá a Curionópolis, cidade perto do local do confronto, em Eldorado de Carajás, foi feito na madrugada de ontem em dois caminhões.
À 1h30 os familiares começaram a identificar os parentes.
Dois mortos foram enterrados sem identificação -o do caixão nº 1, com o corpo do sem-terra conhecido como Altamiro, e o do caixão nº 13, do "irmão Antônio".
A identificação durou mais de cinco horas. Foi preciso abrir alguns caixões -os que estavam com os vidros embaçados- e mostrar corpos em putrefação, já com larvas pelo rosto.
O trabalho de identificação só foi acelerado às 4h quando chegaram a Curionópolis um delegado de Marabá, Vicente da Costa, e dois escrivães, com o álbum das fotos dos 18 mortos tiradas no IML de Marabá e o número dos caixões.
Foice
Os atestados de óbito entregues os parentes confirmam que boa parte das mortes foram provocadas pela ação da PM quando os sem-terra estavam indefesos.
Além das provas de espancamento, chegando mesmo ao esmagamento do cérebro, muitos sem-terra foram atingidos pelas costas e acima da cintura.
Em Brasília, o chefe de gabinete do Ministério da Justiça disse: "os peritos avaliam que sete mortes foram causadas por foice ou faca". Para ele, "isso coloca de forma veemente a hipótese de execução, porque policial não usa foice".
Gregori se baseou em informações do médico Nelson Mazinni, que examinou os corpos.
José Tavares de Souza, acusou o major José Maria de Oliveira, comandante da PM de Parauapebas, de ter espancado e depois assassinado Oziel Alves Pereira, 17, um dos líderes sem-terra.
Em São Paulo, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, defendeu o projeto que permite à Justiça Civil julgar crimes comuns cometidos por militares.

Colaboraram a Sucursal de Brasília, a Reportagem Local e a Agência Folha em Belém

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