São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Sem-terra foram massacrados no PA

REINALDO AZEVEDO
COORDENADOR DE POLÍTICA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Confronto entre sem-terra e PMs, em Eldorado de Carajás (PA), na quarta-feira, deixou pelo menos 19 trabalhadores mortos.
Legistas e representantes do poder público enviados à região atestam indícios de assassinato premeditado. Sem-terra e militares buscam outros corpos na mata.
Em discurso na manhã de quinta-feira, em Corumbá de Goiás, o presidente Fernando Henrique Cardoso lamentava o ocorrido.
FHC ainda não conhecia a dimensão do massacre. Com retórica de inflexão sociológica, opôs o Brasil arcaico -onde tombam os sem-terra- ao Brasil moderno.
Os fatos foram se impondo, ao longo do dia, à tentação adjetiva. À tarde, dispensou o porta-voz e foi em pessoa transmitir ao país a avaliação do governo.
Qualificou a ação da PM do Pará -comandada pelo também tucano Almir Gabriel, governador do Estado- de "inaceitável".
Acrescentou ao adjetivo medidas concretas. Enviou para a região representantes do Ministério da Justiça, convocou uma reunião dos chefes máximos dos três Poderes da República para segunda-feira, às 17h, e deslocou para Eldorado de Carajás uma tropa do Exército.
Caberá à força militar controlar todo o leste do Estado, investigar o massacre dos trabalhadores e fazer uma varredura na mata em busca de novos corpos que teriam sido escondidos por PMs, segundo denunciam os sem-terra.
Enquanto o Pará ardia, José Eduardo de Andrade Vieira alegava razões empresariais para deixar o Ministério da Agricultura, a quem cabe coordenar a reforma agrária. Não sem antes condenar os sem-terra pelo confronto.
Os jornais e TVs do Brasil e do mundo dividiram o noticiário da sexta-feira entre o massacre promovido por Israel no Líbano -que matou 111 civis- e o estrelado pela polícia do Pará.
Embora a opinião pública internacional tenha repudiado o ataque, Israel, ao menos, pode dizer que está em guerra.

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