São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Defesa explora contradições

DA SUCURSAL DO RIO

Os advogados dos réus do caso Candelária se preparam para, no julgamento do dia 29, tentar desmoralizar os meninos de rua e as investigações realizadas por polícia e Ministério Público.
O principal alvo da estratégia da defesa será Wagner dos Santos, 25, ex-mendigo que sobreviveu à chacina e à tentativa de assassinato sofrida em 1994. No total, ele levou nove tiros, três deles na madrugada da matança.
Santos vive na Suíça, para onde viajou há seis meses, ajudado por entidades não-governamentais. Chegará ao Brasil às vésperas do julgamento, protegido por escolta da Polícia Federal.
O ex-mendigo deve ser o único sobrevivente da chacina a participar do julgamento. Sete meninos de rua foram convocados como testemunhas, mas a acusação alega não saber onde eles estão.
As defesas pretendem explorar supostas falhas no depoimento de Santos. Advogada do soldado Marcos Vinícius Emmanuel, Sandra Bossio vê contradição na descrição que ele fez do motorista do Chevette usado pelos matadores.
"No dia da chacina, em depoimento oficial, Wagner disse que o motorista era negro. Dois anos depois, na sessão de reconhecimento, ele apontou um homem branco", afirma a advogada.
Bossio pedirá esta semana o adiamento do julgamento ao juiz José Geraldo Antônio, do 2º Tribunal de Justiça. Ela alegará que investigações que ajudariam na defesa de Emmanuel não foram feitas pela Secretaria da Segurança, apesar de determinadas pela Justiça.
O advogado Ekel de Souza, defensor do tenente Marcelo Cortes, também atacará os reconhecimentos feitos por Santos. Segundo ele, Santos confundiu seu cliente, que estaria na patrulha que o socorreu no aterro do Flamengo (zona sul), após ser baleado.
Os advogados planejam explorar as desavenças surgidas nas últimas semanas entre as diversas ONGs envolvidas em um suposto lobby pela condenação dos acusados.
As ONGs criaram o Fórum da Impunidade e convidaram o jurista Evaristo de Moraes Filho para ser assistente de acusação no julgamento. Moraes Filho aceitou.
Só que a advogada dos meninos de rua, Cristina Leonardo, recusa a indicação. Por ter procuração dos sobreviventes, cabe a ela escolher o assistente. Cristina indicou o advogado Fernando Fragoso, vice-presidente da seção Rio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

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