São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Professor mantém aulas e pesquisas

Alguns vão para faculdades particulares

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

São poucos os professores que conseguem abandonar completamente o trabalho de ensino e, principalmente, de pesquisa.
Muitos continuam trabalhando no próprio lugar onde se aposentaram, sem receber nada além da aposentadoria, já que é vedada a recontratação.
"Estou coordenando um estudo no Alto do Juruá (AC) e ainda tenho vários orientandos na USP", diz a antropóloga Maria Manuela Carneiro da Cunha, aposentada há dois meses.
Manuela está atualmente na Universidade de Chicago -de onde falou à Folha por telefone. Lá recebe como docente ativa.
"Eu tinha de tomar uma decisão entre a USP e a Universidade de Chicago, e essa incerteza (em torno da reforma da Previdência) acabou pesando."
"Aposentamos, mas continuamos a trabalhar", afirma o professor Dino Preti, 61. Embora esteja no quadro de inativos da USP há um ano, ele mantém sua sala com biblioteca no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
"Felizmente, me convidaram a continuar dando aula na pós-graduação", diz Preti -um dos maiores especialistas em língua oral do país-, que hoje também leciona na PUC-SP.
Por que se aposentou? "Houve aquela confusão toda, aquela correria, tudo muito brasileiro, e eu fiquei com medo. Meu sogro perdeu tudo no final da vida."
Não são só instituições do exterior ou a PUC que têm se beneficiado da aposentadoria precoce nas universidades públicas.
A sociolinguista Irenilde Pereira dos Santos, 48, deixou de coordenar a pós-graduação de seu departamento na USP para dirigir a pós da Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo.
"As instituições particulares estão precisando de gente com experiência em pós-graduação."
Irenilde se aposentou por medo de "mudarem as regras do jogo". Imaginou ficar um tempo sem fazer nada. "Quatro dias depois me chamaram para vir para a Cásper Líbero."
Ela também dá atendimento na USP um dia por semana para oito orientandos de pós-graduação e dois de iniciação científica. "É difícil perder o vínculo com a pesquisa."
"Minha idéia é continuar dando aulas normalmente e ficar só com a parte boa da universidade", afirma Davi Arrigucci, 52, que está em processo de aposentadoria do Departamento de Teoria Literária da USP.
"Trabalhei 31 anos e agora quero sair da burocracia pela aposentadoria", diz o professor.
Burocracia, no caso, é ser chefe de departamento -Arrigucci foi durante três anos- ou participar das várias comissões que discutem desde contratações até projetos acadêmicos.
(FR)

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