São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Mercado matrimonial favorece homens

JOSÉ ROBERTO TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há uma distorção no mercado nupcial brasileiro. Apesar do excedente de 1,8 milhão de mulheres em idade fértil no país, entre os solteiros há mais homens do que mulheres. Por outro lado, há o dobro de separadas do que de desquitados ou divorciados.
A causa desse desencontro entre os sexos é explicada pelos demógrafos através de uma teoria batizada de "pirâmide da solidão". "O mercado matrimonial é sempre favorável ao homem", afirma a pesquisadora Elza Berquó.
Ela sustenta que os homens, à medida que envelhecem, aumentam suas chances de achar uma parceira. Elas podem ser da sua mesma faixa etária ou mais jovens. Para as mulheres é o contrário: os parceiros são, em geral, da mesma faixa etária ou mais velhos.
'Pirâmide da solidão'
"As mulheres olham para o vértice da pirâmide, onde a oferta de parceiros é decrescente, enquanto os homens olham para a base, mais larga", sintetiza a pesquisadora do Cebrap e do Núcleo de Estudos Populacionais (Nepo) da Unicamp.
Em números, isso significa que há 1,9 milhão de homens separados, desquitados ou divorciados no Brasil, contra 4,2 milhões de mulheres no mesmo estado civil -segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do IBGE.
Essa diferença só não é maior do que entre os viúvos. Agravado pelo fato de os homens morrerem mais cedo que as mulheres, o superávit feminino bate recordes nessa faixa. São 4,6 milhões de viúvas contra só 870 mil viúvos.
Na prática, a "pirâmide da solidão" faz com que os homens descasados ou viúvos voltem a se unir, mas com mulheres solteiras. Isso também desequilibra o outro prato da balança: há 2,5 milhões a menos de solteiros do sexo feminino do que do masculino.
Coordenadora do Nepo, da Unicamp, a demógrafa Maria Coleta de Oliveira diz que os homens se prevalecem de sua condição econômica e do excedente de mulheres para reciclarem suas parcerias. É a popular troca de uma mulher de 40 anos por duas de 20.
Ela cita estudo publicado em 1992 por dois pesquisadores estrangeiros, a norte-americana Margaret Greene e o indiano Vijayendra Rao. O título sintetiza as conclusões do artigo: "A compressão do mercado matrimonial e o aumento das uniões consensuais no Brasil".
Acomodação
Os casamentos não-formalizados junto ao Estado e/ou à igreja, sustentam os pesquisadores, são um mecanismo encontrado pela sociedade brasileira para acomodar as discrepâncias no mercado matrimonial.
Os estudo insinua que ao facilitar os casamentos e permitir ao homem, em certas circunstâncias, ter mais de uma parceira, a união consensual possibilita que mais mulheres tenham chance de se casar em algum momento de suas vidas, contornando o déficit na "oferta" de parceiros.
Segundo o gerente do projeto Componentes da Dinâmica Geográfica do IBGE, Juarez de Castro Oliveira, entre 1980 e 1993 houve uma diminuição do número de mulheres casadas em contraposição a um aumento do número de solteiras e de uniões consensuais.
(JRT)

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