São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Indústria está ameaçada pelos juros, diz consultora

Governo cria "ciclo vicioso" entre dívida e crédito restrito

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A política de juros altos criou um "ciclo vicioso" que ameaça a sobrevivência de "um pedaço do parque industrial" do país. A afirmação é da consultora Tereza Fernandez, da MB Associados.
O juro alto gerou inadimplência (atraso nos pagamentos), que acabou gerando empoçamento dos recursos no mercado financeiro.
Ou seja, tanto os investidores concentraram suas aplicações nos bancos considerados "inquebráveis" como os bancos, temerosos, passaram a ser cada vez mais rigorosos na concessão de novos empréstimos (veja arte que mostra a queda continuada de empréstimos entre bancos).
Assim, diz Tereza, o empoçamento acaba ampliando a inadimplência que, piorada, amplia o empoçamento.
Esse círculo explica tanto o aumento das falências e concordatas como o processo de concentração na economia (com poucas empresas controlando segmentos de mercado), passando pela quebra de alguns bancos.
Foi uma repetição na versão tupiniquim da crise da dívida externa em 1980, compara Joaquim Elói Cirne de Toledo, vice-presidente da Nossa Caixa-Nosso Banco.
O governo, diz Toledo, fez com que todos os bancos, como aconteceu com os bancos internacionais depois da quebra do México, adotassem a mesma estratégia: cobrar as dívidas.
Desta forma, diz Tereza, as empresas enfrentam o pior dos cenários: "Inflação de Primeiro Mundo, mas juros de Quinto Mundo".
Mário Bernardini, vice-presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), concorda.
Dizendo que as empresas entraram no Real "ajustadas para uma maior concorrência", Bernardini acredita que o setor privado tropeçou em três "surpresas" armadas pelo governo.
A primeira foi a ampliação da abertura do país aos importados com a queda do dólar a R$ 0,82. A segunda foi a manutenção de juros elevadíssimos por (até agora) dois anos, "que o governo disse ser transitórios". Por fim, em março do ano passado, o governo ampliou as restrições ao crédito e pegou várias empresas no contrapé.
"Muitas empresas erraram na política de estoques", diz Tereza. Esse erro, desde que o governo não consiga desarmar a armadilha dos juros, e até agora não conseguiu, pode ter sido fatal.
A diferença entre o juro pago no over e cobrado para capital de giro "é inadimissível e cria um desequilíbrio entre receitas e despesas que só tende a se ampliar".

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