São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Abertura muda estratégia empresarial

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A abertura da economia e a estabilidade tiraram das empresas o poder de fazer o preço dos produtos. Quem faz preço, agora, é o mercado.
Como diz Antoninho Marmo Trevisan, o preço é, agora, um fator externo.
Antes do Plano Real, as empresas somavam de todos os custos de produção e adicionavam uma ampla margem de lucro, que as protegia contra qualquer previsão errada para a inflação. O resultado era o preço cobrado.
Em alguns casos, uma associação regulava os preços do setor. E o fazia de forma a garantir alguma margem de lucro mesmo para as empresas que tinham os custos mais elevados.
Com os preços tabelados e sem a concorrência dos importados, o consumidor não tinha escolha e era obrigado a pagar o preço estabelecido.
Lógica invertida
Nos últimos dois anos, porém, a maioria esmagadora das empresas passou por uma experiência diferente.
O aumento da concorrência, interna e externa, deu ao consumidor o direito de escolher o produto e o preço que está disposto a pagar.
Isso inverteu a concepção do negócio. Antes, a empresa "precisava" de um determinado preço que pagasse seus custos e suas margens de lucro.
Hoje, a empresa "precisa" controlar custos e aceitar a margem de lucro necessária para ficar dentro do preço, que foi determinado pelo mercado.
É uma revolução cultural, e recente. Até 1990, a economia brasileira era fechada e controlada.
Quem demorou a perceber o tamanho da mudança ou quem achou que a mudança não seria para valer e que logo voltariam a inflação e o fechamento, ficou fora do mercado.
Lucros menores
Na verdade, nota Trevisan, para se adequar aos novos tempos, a empresa tem que abandonar a política de grande margem de lucro imediata.
No ambiente atual, só um tipo de empresa pode esperar lucro alto e imediato, explica Trevisan. É uma empresa como a Microsoft, que tinha o produto certo para o momento certo. Ou seja, o produto que respondia às necessidades do mercado.
Certamente a Microsoft obteve margens altíssimas com o seu programa Windows, pois o mercado aceitou pagar isso.
Afora esses casos, que são raros, ninguém mais pode esperar lucros altos e imediatos.
Toda a empresa tem que pensar menos na margem de hoje, e mais no retorno do capital a médio e longo prazo, diz Trevisan.
Prazo fatal
São essas mudanças que estão em curso na economia brasileira. A adaptação depende essencialmente do comportamento de cada empresa.
Mas não se pode esquecer, diz Luis Paulo Rosenberg, que a empresa precisa também essencialmente de ajuda externa.
Ou seja, a política econômica precisa criar um ambiente se não positivo, pelo menos neutro.
Até aqui, o ambiente hostil, juros altos, crédito restrito, dólar barato, tem sido apresentado como o preço a pagar pelo benefício de liquidar a inflação.
O remédio mata parte das empresas, mas surgem novas e a maioria resiste. Só que a capacidade de resistência vale para dois, três anos.
É esse o prazo, diz Rosenberg, para o avanço das reformas e das privatizações.
(CAS)

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