São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996 |
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Economista prevê colapso no nível de emprego da área rural Desde 1994, mais de 500 mil ficaram desempregados CARLA ARANHA SCHTRUK
Lopes diz que a falta de emprego no campo aumentou nos últimos dois anos -mais de 500 mil ficaram desempregados desde 94, na região Sul e em São Paulo. Pesquisador da área agrícola, com pós-doutorado na Universidade de Genebra, Suíça, ele não se limitou ao estudo acadêmico para analisar o desemprego no campo. Ao contrário: percorreu o interior dos Estados e assistiu a desempregados fazendo acampamentos à beira de estradas. * Folha - O desemprego rural deve aumentar ainda mais? Mauro Lopes - Bem, ele já é muito grande e vem se agravando nos últimos dois anos. A área cultivada de algodão, por exemplo, caiu pela metade. A organização de cooperativas do Paraná estima que foram perdidos 226 mil empregos diretos somente no plantio de algodão. Com a área de trigo aconteceu o mesmo. Estima-se que foram perdidos cerca de 300 mil empregos. Folha - Há perspectivas de os desempregados se reempregarem? Lopes - Não nesta safra. Houve uma queda de produção agrícola, o que obviamente não vai gerar emprego no meio rural. A verdade é que temos nas mãos uma massa de desempregados que só não vai para as cidades porque elas não têm a menor condição de reabsorver esses retirantes. Folha - A tendência, então, é de que esses trabalhadores rurais continuem sem emprego? Lopes - Sim. Mas, se em setembro ou outubro mudar a política agrícola, é possível que volte a crescer o nível de emprego. Nada indica que isso será feito. Folha - O senhor vê possibilidade de o quadro atual de desemprego rural se reverter a curto prazo? Lopes - Se houver uma escassez de alimentos muito forte, é possível que a política agrícola dê uma guinada. Só mesmo uma severa privação social, decorrente de escassez de alimentos e preços altos, faria a sociedade pensar seriamente no desemprego rural. Folha - Quais são as consequências sociais da falta de emprego? Lopes - O agravamento do estado de miséria, do estado de desnutrição e da criminalidade. É pouco provável que haja um aproveitamento dessas pessoas na indústria. Eles não têm qualificação e também não têm acesso à educação. Sem o mínimo de preparo, é praticamente impossível conseguir emprego nas cidades. Folha - Os novos desempregados do campo engrossam as fileiras dos sem-terra? Lopes - Não há dúvida de que eles são sem-terra. Mas ninguém sabe ao certo se fazem parte do movimento dos sem-terra, assim como a sociedade não sabe quem são os pobres no Brasil. Ninguém sabe exatamente quem são os desempregados no meio rural. Folha - Já foi feita alguma pesquisa sobre o assunto? Lopes - Sobre esses que estou falando, não. Andei por muitas estradas e vi acampamentos de desempregados. Falei com eles e sei que estamos falando de trabalhadores sem-terra, de bóias-frias e de trabalhadores temporários que perderam o emprego porque caiu a área e a produção. Folha - Está sendo feito algum esforço, por parte do governo ou de instituições de pesquisa, para estudar mais a fundo esse tema? Lopes - Não que se tenha notado. E note que seria fácil fazer essa pesquisa. Bastaria fazer um cadastramento dessas pessoas e levantar as informações. A partir daí, poderia ser implementado um programa de auxílio a essas pessoas. Sem pesquisa é impossível atuar em política social. Texto Anterior: Ex-estagiária recebe um salário de R$ 1.200 Próximo Texto: Novo curso de pós-graduação da Faap não garante emprego Índice |
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