São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Passa moleque (2)

JUCA KFOURI

Por que, então, os cartolas defendem a atual Lei do Passe? Porque estão preocupados com o patrimônio de seus clubes?
Ora, basta olhar em volta para ver que a maior parte dos clubes está em situação pré-falimentar. E não é de hoje. Raríssimos são os dirigentes preocupados com a boa gestão e o comum é deixar dívidas para seus sucessores.
A verdade é que o cartolas ganham muito nas compras e vendas de atletas, sempre na base do caixa 2 e sonegando Imposto de Renda.
A fragilidade de seus argumentos é tamanha que, em vez de aceitar o debate aberto com o Ministério dos Esportes, alguns clubes menos importantes de São Paulo, liderados pela família Chedid, se movimentam para nomear um advogado para tentar demonstrar a inconstitucionalidade do projeto de Pelé.
Já os clubes grandes do país, representados pelo Clube dos 13, em sentido oposto, buscam se reunir com representantes do ministério para melhor entender a proposta antes de tomar uma posição, coisa que deve acontecer no dia 25.
Vale repetir que a proposta de Pelé não prejudica quem, de fato, investe corretamente nas categorias de base, na medida em que permite a profissionalização dos atletas aos 16 anos com contratos de 3 anos.
Quem quiser ir mantendo seus atletas terá sempre a oportunidade de renovar esses contratos antes de seu término -ao fim do segundo ano, por exemplo, e sempre por mais três anos.
Há questões ainda a ser esclarecidas e que, num primeiro momento de vigência da nova ordem, alguma turbulência será inevitável.
O Flamengo, por exemplo, está preocupado com a situação de Edmundo, cujo passe em tese lhe pertence, pelo qual já pagou um bom dinheiro mas que, hoje, cedido ao Corinthians, poderia estar livre para fazer o que bem quisesse, com óbvios prejuízos ao clube.
De fato, um caso como esse não está previsto na nova regulamentação, o que apenas torna inadiável o debate para que se encontre uma solução satisfatória -hipótese que encontra boa vontade por parte do ministério, embora o novo texto preveja a prorrogação por um ano dos contratos em vigor.
Inaceitável, portanto, é apenas a posição do não li e não gostei. Ninguém tem a ilusão de que os senhores dos escravos aceitem a Lei Áurea -e no caso está mais para a Lei dos Sexagenários, ou dos 24 anos- sem reagir.

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