São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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a mulher de 30

ALESSANDRA BLANCO

De jaqueta de couro, calça preta colada ao corpo e botas de verniz, a modelo mais bem paga do mundo compareceu ao aeroporto de Gatwick, em Londres, no início deste mês, para mais um "encontro de negócios".
Era o dia do lançamento da nova campanha publicitária da Pepsi, a maior já lançada pela empresa. Cindy Crawford entrou no palco em uma moto Harley-Davidson. Usava também uma blusa e um lenço em azul, as novas cores da Pepsi.
Devidamente maquiada e com os cabelos no estilo "propositalmente desarrumados", correu o palco de um lado a outro para atender aos pedidos dos fotógrafos. Depois, disse algumas frases simpáticas à empresa, riu de seus comerciais e deixou o palco. Era a hora das entrevistas.
Sentada nas escadas de um Concorde, atendeu a equipes de televisão de dezenas de países. A cada nova pergunta, um retoque na maquiagem e nos cabelos.
Em frente às câmeras, Cindy faz o estilo vamp. Procura ficar sempre de perfil, sabe como mexer a boca, olhar para a lente e fazer gestos que mantenham a imagem de sex symbol. Não permite sequer uma foto se não estiver preparada para ela. Ao seu redor, seguranças impedem que os jornalistas-fãs tentem tirar um retrato para levar para casa como "recordação".
É assim que preza por sua imagem, e por isso ganhou US$ 6,5 milhões em 1994 (os números de 95 não foram divulgados, mas calculava-se o dobro do ano anterior).
Da mesma forma que escolhe as empresas para as quais vai trabalhar -como a própria Pepsi, a Revlon e a MTV, onde faz o programa "House of Style"-, escolhe quem tira suas fotos e ao lado de quem tira fotos.
Foi preciso uma conversa com a diretoria da Pepsi para que Cindy aceitasse tirar fotos ao lado da também modelo Claudia Schiffer e do tenista Andre Agassi (outros contratados da empresa), apesar de dizer que Claudia e ela são "praticamente irmãs".
Longe das câmeras, Cindy é bem mais descontraída e até simpática. Parece se sentir mais à vontade. Já não é mais a sex symbol. Ao contrário, passou todo o tempo que durou a entrevista tremendo de frio, enrolada em uma espécie de cobertor: a temperatura em Londres era de -1ºC.
Ao falar com os jornalistas, a top model age como uma mulher de negócios. Procura falar o máximo possível sobre as empresas para as quais trabalha, fala em investimentos, e evita tocar no assunto casamento/namoro.
Não menciona o nome de Richard Gere, o ex-marido, nem de Val Kilmer, o "provável" atual namorado.
Faz piada com os seus 30 anos, completados em fevereiro, e agradece ao jornalista que diz que ela ainda não aparenta a idade que tem - como se não fosse Cindy Crawford.
Depois, diz estar feliz por chegar aos 30, se acha mais amadurecida, mas ainda não sabe o que fazer de Cindy Crawford no futuro. Teme se aproximar dos 40 sem ter filhos.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista com Cindy Crawford.

Como você se sente com 30 anos?
Bem, eu só fiz 30 anos há dois meses (risos). Mas eu me sinto muito bem. Para mim é mais do que um número. Ok, você pensa: 30. Você finalmente descobre quem você é de verdade, tem mais controle, mais força. Por outro lado, sente um pouco de medo porque 40 anos já é muito tarde para ser mãe. Tudo muda, mas algumas coisas continuam. Eu ainda penso o que vou fazer da minha vida, ou o que ainda quero fazer.
Quem cuida dos seus negócios?
Eu tenho um gerente de negócios que me dá conselhos financeiros e minha mãe trabalha em um banco. Tenho a sorte de trabalhar com pessoas competentes e, quando preciso de ajuda, ligo para eles. Mas ainda acho que preciso de um advogado para fazer as coisas para mim.
O quanto a imagem que você passa é próxima da sua real personalidade?
Às vezes acho que minha imagem é maior do que eu. Quero dizer, não sou vamp o tempo todo ou sex symbol. Algumas pessoas passam imagens completamente diferentes do que elas são de verdade. Acho que a minha imagem está muito ligada à beleza. Mas é só uma imagem. Eu tenho uma pinta no rosto que marca a minha imagem e marca minha personalidade, me tornou famosa. Quero dizer, não sou uma mulher de negócios genial, mas sou a única que conseguiu transformar uma pinta no rosto em um negócio.
Qual será o seu próximo filme? (Cindy estreou no cinema no ano passado com "Fair Game", ou "Atração Explosiva", considerado um fracasso pela crítica)
Não decidi nada ainda. Há muitas coisas que quero fazer. Ando muito ocupada com meu trabalho com a Pepsi, a Revlon, a MTV e os desfiles. Acredito que nos próximos dois anos não devo fazer um novo filme.
O que você achou da nova campanha da Pepsi?
Muito moderna e dinâmica. Gosto muito de participar dos filmes da Pepsi, são sempre bem-humorados, e sempre dá algo errado para mim no final. Estou muito feliz que Pepsi e MTV estejam trabalhando juntas agora porque eu já trabalhava para as duas em separado.
Como você considera a contratação de Claudia Schiffer também pela Pepsi? Isso causa algum problema para o seu trabalho?
Não, de forma alguma. Eu e Claudia nos damos muito bem, somos como irmãs. Também na Revlon fui contratada primeiro, depois ela entrou. E já trabalhamos juntas há anos.
Você costuma dizer que só trabalha com empresas nas quais confia, e que sempre bebeu Pepsi, por exemplo. É verdade que você nunca experimentou Coca-Cola?
(risos)
Você está usando roupa e lenço azul hoje, cor adotada pela Pepsi. Qual é sua cor preferida?
Não tenho uma cor preferida. Mas, se for levar em conta a que mais uso, é o preto.

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