São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996
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O passar dos dias

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A reforma agrária não sai do lugar e, menos de uma semana depois, perdeu a manchete do Jornal Nacional para outra mui importante reforma -a ministerial.
Reforma ministerial, aliás, que tirou sua desculpa do massacre e da efêmera valorização da reforma agrária.
A manchete:
- Reforma ministerial vai ser mais ampla do que se previa. Além de recriar o Ministério da Reforma Agrária, o governo cria o cargo de ministro-extraordinário para Coordenação Política.
O massacre deu a deixa para FHC abrir a "dança das cadeiras" no governo. Na manchete do TJ, nem lembraram de mencionar a reforma agrária. Disse logo:
- Luís Carlos Santos, líder do governo na Câmara dos Deputados, será ministro da Coordenação Política.
É o que importa. O líder será o coordenador, a ministra da Indústria será ministra da Agricultura, e o malufista Francisco Dornelles será ministro da Indústria.
FHC achou utilidade, à sua moda, para os 19 mortos.
Além das manchetes, a reforma agrária vai perdendo a unanimidade dos dias seguintes ao massacre.
Os extremistas começam a expor as garras.
O SBT registrou, assim, que a bancada ruralista ficou "indignada" com um projeto que limita o número de liminares nas desapropriações.
A Globo, por sua vez, registrou uma proposta da mesma bancada, que quer transferir a reforma agrária aos prefeitos (e ninguém riu).
E Cid Moreira, no editorial da Globo, aproveitou o passar dos dias para questionar não mais os policiais, mas os sem-terra mortos, com observações como:
- Eles atuam por meio de invasões....
- O movimento dos sem-terra emprega a força para violar a lei...
E a polícia está lá, finalizou ele, para acabar com isso.

E-mail nelsonsa@folha.com.br

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