São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996 |
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Papa condena massacre dos sem-terra no Pará
LUIS HENRIQUE AMARAL
A condenação foi transmitida ao Brasil por carta do cardeal francês Roger Etchegaray, presidente da comissão no Vaticano. A carta chegou ontem à 34ª Assembléia-Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que acontece até o dia 26 em Indaiatuba (110 km a noroeste de São Paulo). O documento afirma que "o problema da distribuição da terra e suas graves consequências só poderá ser resolvido na perspectiva ética e política, garantida por uma reforma agrária corajosa e de longo alcance". Na carta, o cardeal fala em "massacre de 20 camponeses sem terra" e transmite aos bispos brasileiros seus "sentimentos de profunda angústia por tanta violência e desprezo pelo homem". Em seguida, o cardeal afirma que seu conselho pontifício se "une ao pedido feito pela CNBB para todo o país: que rezem pelos camponeses assassinados e façam um empenho excepcional pela instauração da justiça social". A carta lembra ainda que o Vaticano conhece os problemas do campo brasileiro, que foi levado pelos bispos em suas visitas "ad limina" -visitas que os bispos de cada região do país fazem ao papa para relatar sua atuação. "O cardeal Etchegaray fala em nome do papa e ocupa um dos postos mais importantes do Vaticano", disse ontem o bispo de Paulo Afonso (BA), d. Mario Zanetta, que falou pela CNBB sobre a carta. O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, se disse "impressionado" com a carta do Vaticano. "Ele soube interpretar muito bem o que estamos sentindo no Brasil em razão do massacre. E ainda lembrou a importância da reforma agrária para o país", disse. Para Arns, a carta demonstra como um "ato de violência no Brasil toca o mundo inteiro". Para o cardeal-arcebispo da Paraíba, d. Marcelo Carvalheira, a carta representa "uma pressão justa pela reforma agrária no país". Os bispos usaram ontem uma tarja preta durante a missa de sétimo dia pela morte dos sem-terra. Eles pediram durante a missa o assentamento imediato de todas as famílias de sem-terra. Corumbiara O presidente do PT, José Dirceu, voltou a responsabilizar ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso pelo massacre, "porque não puniu os responsáveis por Corumbiara e reduziu a verba do Incra" (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Dirceu falou durante manifestação na praça da Sé (região central de São Paulo) em repúdio à chacina. Organizada pelo MST, com o apoio de 40 sindicatos ligados à CUT, a manifestação teve a presença de cerca de cem pessoas. Colaboraram a Folha Sudeste e a Reportagem Local Texto Anterior: Peritos põem armas em dúvida Próximo Texto: TFP diz que MST é "guerrilheiro" e quer o "poder" Índice |
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