São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996
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TFP diz que MST é "guerrilheiro" e quer o "poder"

DA REPORTAGEM LOCAL

A organização católica conservadora TFP (Tradição, Família e Propriedade) acusou o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de ser um movimento guerrilheiro cujo objetivo é tomar o poder.
Em texto publicitário publicado ontem nos jornais, a TFP questiona se o massacre no Pará não foi provocado pelo próprio MST a fim de que fosse mostrado no mundo inteiro.
"O MST está interessado em fazer mártires entre seus sequazes, para assim alcançar mais propaganda", diz o texto.
Citando trechos de reportagens de vários jornais, a TFP afirma que o episódio do Pará "ainda está obscuro", e "é preciso ter cautela ao tentar definir culpabilidades".
A organização criticou o Estatuto da Terra, de 1964, e a reforma agrária que vem sendo feita.
Seu resultado, segundo a TFP, foi a favelização do campo e a formação de caldo de cultura propício ao desenvolvimento de grupos de tipo ideológico-guerrilheiro.
A TFP afirmou ter recebido a notícia do massacre com "consternação e perplexidade" e diz que o governo não deve acelerar a reforma agrária.
Em lugar da reforma, a TFP propõe a adoção de política agrícola "adequada", que "crie empregos no campo, favoreça o sistema de parceria e arrendamento e estimule os pequenos produtores, já legítimos proprietários".
A TFP também defende que seja facilitado o acesso à terra aos não-proprietários, "sem que isso redunde em perseguição à grande e média propriedade, às quais o Brasil tanto deve".
Fundada em 1960, a TFP notabilizou-se por suas idéias conservadoras e, especialmente, por sua pregação contra o comunismo.
Seu mentor e fundador, o professor de história contemporânea da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Plínio Corrêa de Oliveira, morreu em 3 de outubro de 1995, aos 87 anos.
Durante 35 anos, ele ocupou a presidência do conselho nacional da organização. Em homenagem a seu fundador, a TFP decidiu que o cargo de presidente ficaria vago.
O comando da organização é exercido hoje pelo vice-presidente do conselho, o advogado Luiz Nazareno de Assunção Filho, 67.
Paulo Corrêa de Brito Filho, 65, ex-professor de jornalismo e sem parentesco com o fundador da TFP, ocupa a secretaria-geral.
A atual diretoria foi eleita por unanimidade em assembléia-geral extraordinária da entidade convocada duas semanas depois da morte de Plínio Corrêa de Oliveira.
O conselho se reúne uma vez por mês. A organização também é conhecida pelo ferrenho anticomunismo, pelos ritos e trajes de inspiração medieval e enormes estandartes vermelhos, que abrem as hoje raras passeatas que promove.
Estranhos não têm acesso às suas reuniões e atividades.
Mulheres não são admitidas no quadro oficial da organização. A sede nacional da TFP fica em uma casa no bairro de Higienópolis, em São Paulo.

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