São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996
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E o velho Lobo dobra o cabo das Tormentas

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, ali por volta da uma da manhã, comendo comedidamente uma picanha magra, no Rodeio, o velho Lobo do fut Zagallo confessava que a África do Sul não seria um passeio.
Confiando no trabalho de seus informantes, costurando-o com os resultados que os sul-africanos conseguiram no torneio continental de seleções, e, por cima, cerzindo com os empates que eles conseguiram contra Alemanha e Argentina -duas das mais importantes seleções do mundo-, o pano de fundo das observações de Zagallo só recomendava uma coisa para o jogo de ontem: cautela.
Cautela, contudo, em nenhum dicionário, significa o mesmo que desorganização -e o Brasil, no primeiro tempo, parecia mais um grupo disposto a fazer safári, sem guia, em terras africanas, do que um time organizado de futebol.
*
A estrela guia seria o Juninho, que não pôde aparecer. Sem ele, a dupla atacante preferida do técnico da seleção brasileira, Bebeto e Sávio, ficou sozinha, dançando a valsa de quem não tem amor.
Para piorar, a camisa anda pesando mesmo lá na cozinha: Aldair, experiente, saudado como a solução para os problemas do fundo de quintal, jogava muito mal.
E não estava combinado que o Dida tentaria cruzar o Atlântico no primeiro gol dos leões, estava?
*
No intervalo, o velho Lobo fez uma alteração inesperada para quem estava perdendo por dois gols: tirou o Jamelli para colocar um terceiro cabeceira de área, Zé Elias (quando todo mundo esperava um outro atacante, Luizão, claro).
O velho marujo Zagallo deve mesmo navegar melhor do que os outros: liberou os chutes do Flávio Conceição e avançou mais o Rivaldo. Pois, em 20 minutos, os dois empatavam a peleja sem pajelança alguma.
*
Zé Elias consertou o meio-campo. Até que o Bebeto, finalmente, transformou o cabo das Tormentas em cabo da Boa Esperança.
Sei não, apesar da vitória, acho que o velho Lobo trará algumas dúvidas a mais na sua cabeça branca.
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Futebol na mamma África é uma alegria, cheio de magia, de música e de ritos.
Até o velho Lobo, provocado pelo técnico Clive Barker, foi comemorar o gol de Bebeto com um aviãozinho.
A teenbolada tornou o nosso técnico uma criança. Que assim seja, para o bem do fut.
*
Pelas minhas contas, o Palmeiras, com a bola nos pés, marca um gol a cada 6,46 minutos. Alta produtividade.
O Santos, time que, nos cálculos do Datafolha, detém a maior média de posse de bola, marca, com a menina no colo, um gol a cada 14,13 minutos.
Mas sabe qual é o time que mais traduz a sua posse de bola em tiros a gol? O Novorizontino. Em quatro jogos medidos, ele dá, praticamente, um arremate em gol a cada minuto de posse de bola.
A Ferroviária faz quase 30 faltas graves em um jogo. O Santos tem 12 cartões vermelhos e 72 amarelos no campeonato. Taí um joguinho para a arbitragem ficar de olho vivo.

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