São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996
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R$ 2 bilhões

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Poucos brasileiros seriam capazes de dizer quanto vale e o que dá para fazer com R$ 2 bilhões. Para economizar espaço, vamos dizer apenas que seja muito dinheiro.
Pois bem, por culpa do horário da notícia, pouco destaque foi dado à seguinte informação: numa reunião burocrática, com dois senadores e um ministro, o presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu, anteontem à noite, assumir cerca de R$ 2 bilhões de dívida paulista com o Banespa.
Assumir a dívida é um eufemismo. FHC vai usar o dinheiro do contribuinte para cobrir esse rombo. Contribuinte, caro leitor, é você.
Mário Covas, governador de São Paulo, fechou um acordo para renegociar a dívida do Banespa em 15 de dezembro. A dívida era, então, de aproximadamente R$ 15 bilhões.
Covas recebeu condições privilegiadas: 30 anos para pagar e juros de 6% ao ano. Apesar disso, resmungou. Disse que esse acordo de pai para filho apertaria São Paulo.
Para piorar, o acordo vagou sem rumo pelo Senado de dezembro até agora. A dívida pulou de R$ 15 bilhões para pouco mais de R$ 17 bilhões.
Covas reclamou. Recusa-se a pagar mais R$ 2 bilhões. Anunciou a desistência do negócio. Estava blefando.
Um blefe parcial. O governador arrependeu-se de ter comprometido o dinheiro do Estado para salvar o Banespa. Acha que seu esforço serviu, pelo menos, para não ficar com a pecha de "o homem que perdeu o Banespa".
FHC ficou em pânico. Ao desistir de seu banco, Covas jogou um abacaxi no Planalto. Um Banespa falido e inchado de funcionários públicos. Caberia ao governo federal mandar gente embora e consertar a bagunça.
O presidente achou que sairia mais barato dar R$ 2 bilhões para Covas. Deu. Covas ficou feliz. Blefou, e ganhou. Política é assim -mesmo entre tucanos.
Só falta, agora, Covas dizer que não aceita o banco mesmo com essa nova bolada de R$ 2 bilhões.

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