São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Depoimentos dificultam as investigações LUCAS FIGUEIREDO LUCAS FIGUEIREDO; IRINEU MACHADO
As investigações do Ministério Público do Pará esbarram na falta de testemunhas que forneçam elementos concretos para identificação dos responsáveis pela morte dos 19 sem-terra no conflito de Eldorado do Carajás. Promotores que atuam no caso avaliam que a maior parte dos depoimentos colhidos até agora é inconsistente ou inverídica. A suspeita é de que as testemunhas que podem fornecer elementos concretos não estão dispostas a falar com medo de represálias. Uma dessas testemunhas é o dono do caminhão que foi obrigado pelos sem-terra, no dia do conflito, a atravessar o veículo na PA-150, interditando a estrada. O motorista, cujo nome é guardado sob sigilo pela Polícia Federal, foi chamado a depor, mas teme ser morto e não se apresentou. Agentes da PF que cuidam da proteção do caminhoneiro afirmam que a falta de estrutura do órgão irá obrigar a suspensão desse trabalho dentro de poucos dias. Enquanto poucas testemunhas consideradas importantes aparecem, os promotores gastam tempo ouvindo relatos que else consideram fantasiosos. Quase a totalidade dos ouvidos se recusou a admitir que havia armas entre os manifestantes. Nos relatos sobre PMs atirando contra sem-terra, grande parte das versões é flagrantemente inverídica. Uma das testemunhas contou que viu, a um quilômetro de distância, um policial atirar contra um sem-terra. "A maior dificuldade do nosso trabalho é separar essas versões fantasiosas dos depoimentos que de fato podem contribuir nas apurações", afirmou a promotora Regina Taveiro. O juiz de Curionópolis, Laércio de Almeida Laredo, analisa nos próximos dias o pedido de arquivamento do inquérito civil feito pelos advogados dos policiais. Os advogados Gilberto Alves, Américo Leal e Abdoral Lopes argumentam que o caso é da alçada da Justiça Militar, sendo, portanto, desnecessário o inquérito civil. Ontem o major da PM em Parauapebas José Maria Oliveira prestou depoimento no inquérito policial militar por cinco horas. Ele e outros quatro PMs ouvidos em Marabá não deram declarações. O ministro da Justiça, Nelson Jobim, segue para o Pará na segunda-feira para acompanhar as investigações. Colaborou Irineu Machado, da Agência Folha, em Marabá Texto Anterior: Garimpeiros vão receber indenização Próximo Texto: Exame é interrompido Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |